23.10.06

BEM VINDOS

Os versos contidos neste Blog, retratam resumos das Crônicas "INFÂNCIA, A MELHOR FASE DA VIDA", contendo poemas em versos, prosas, cordel, críticas e humor.
A cada dia, estaremos publicando aqui novos capítulos. Leia, critique ou elogie, fique a vontade. BOA LEITURA.
Wagner Almeida Posso
Autor


Homenagem ao Bairro onde Nasci

Nasci no ano de sessenta e oito
Gordinho com carinha de biscoito
Na periferia de São Paulo, na Vila Marilena
Um povoado pacato, de gente serena.

Tive um lar feliz, com irmãos e pais
Uma infância boa, como não se vê jamais
Passei privações como qualquer do povo brasileiro
Mas meu velho, nunca entrou em desespero.

Fui menino soltando pipa, em um campo de argila
Corri atrás de uma bola, daquelas que o dedo esfola
Perebas nas pernas eu tinha que era um horror
Tatuagens naturais vistas com louvor.

Criei-me neste cenário
Aprendi a caçar no mato
Solto na buraqueira
Também pude saltar na fogueira.

E orava com muito fervor
Porque seria um horror
No inferno eu ser metido
Medo que é de todos, ainda mais de um menino.

Pude ver aquele monte de cabrito
Com uma sela ou cangalha
O pelo feito a navalha
Por um dono agourento.

O sol rachando minha cuca
O poeirão vindo da curva
Sujando a roupa a secar no varal
Deixando mãezinha muito mal.

Uma vida bem pacata
De gente serena e calma
Um povo de boa alma
Que alpercata no pé apertava
E que qualquer visita acatava
Gente sempre precisando de favor
Mas que da vida era professor.

Há saudades dos furtos de goiaba
Dos homicídios de sabiá
Macetar a cabeça da cobra malvada
Daquele bolo quente de fubá.

Da água límpida da bica
Ver escondido a nua prima
Sair na mão no fim da aula
Obrigado a pedir perdão dentro da sala
Era linda a fieira de lambari na sacola
Pegos em armadinhas, com garrafa de coca-cola.

Prazer de puxar uma linhada iscada com minhoca
E fisgar uma traíra dentuça na sua toca
Pude ver cobra d’água engolindo perereca
Rodar pelo rabo a faminta megera.

Cacei preá com cachorro vira-lata
Assei os bichos na fogueira da madrugada
Ouvi histórias de lobisomem, bem assustado
Que eriçava o único fio de cabelo do “subaco”.

Ouvi que inventaram uma tal de televisão
Que tinha gente dentro, som, cor e visão
Também um tal de chuveiro de água quente no jato
E um microondas que substituía a panela de barro.

Até um “filicheive” chamado prestobarba
Que substituía a nossa boa e velha navalha
Tudo inventado por um cara de nome progresso
Eta cabra sabido, o homem era mesmo possesso.

E ouvi falar lá no bar do seu João da cabeça branca
Que esse tal de progresso comia criança
Eu queria ver o progresso substituir o cheiro de terra molhada
Que subia quando Deus mandava aquela boa enxurrada.

Queria o ver substituir meu pôr-do-sol no entardecer
O pulo do tiziu, o cheiro da mata, eu pagava pra ver
Queria o ver substituir o sorriso da vovó Joana de Almeida
Quando no natal ela tinha todos os netos em volta da mesa.

Queria o ver substituir o cansaço no semblante do papai
Quando pegava o trem virador, cheio até não caber mais
Queria o ver substituir a honra e nobreza do vovô Ditinho
Que contava histórias e enriquecia meus sonhos de menino.

Há Saudades de ti, Vila Marilene,
Saudades da lamparina a querosene.


Wagner Almeida Posso.

20.10.06

Brincadeiras Esquecidas



Anda trago em minhas memórias escondidas
As brincadeiras de crianças que já foram esquecidas
o sei se por força da mídia televisiva
Ou pelo vídeo game que a todos cativa.
Brincadeiras que se remexe no peito
De tantas saudades sem sossego
Espero que minha memória não me traia
Para que neste Blog se propaga
Algumas venturas que tive na infância
Do meu lindo tempo de criança.

O tempo de pipa que tudo era perfeito
Que no serol não existia defeito
Ficar na rua a espera do vento
No sol, na chuva ou no sereno.

Afiar as varetas apoiado na coxa
Chorar com cavaco enfiado na roupa
Encapar a pipa com plástico da rua
Recortar com cavaco de vidro, uma obra pura.

A linha comida, parecia um varal
- Se pegar no nó eu vou me dar mal!
Fazer a volta descarregando e deixar subir
E ver a pipa do marreco sumir
Ou ainda soltar a lata no estirante
Podia ser linha de anzol ou de barbante
O relo era coisa certa
Linha lipaza não presta
A boa era linha zóio dez corrente
Não enrolava e era mais potente.

Brincar de box com bolinha de gude ajoelhado no chão
Ir do pagão para matusca com palmo, careca e canhão
E no triângulo se carambolou perdeu a vez
Nervoso para descobrir quem esta regra fez.

E a mudes reta sem drupes, uma verdadeira covardia
Que pulava barranco, possa d’água e facilitava a mira
Mas quando a bolinha acertava no quengo
Estourando a minha, eu parecia um velho agourento.

Ver o pião juncar quicando na cela
Dar um duque que quase o outro pião quebra
E a batatada que dava trisca na fieira
Tirando a tinta pintada à caneta.

Brincar de taco era coisa de macho
Três para trás deveria entregar o taco
Bolinha perdida, sem contagem aberta
Taco fora da cela era queima na certa
Derrubar a lata com mira certeira
Bolinha de camurça pegava na veia.

E o beijo, abraço e aperto de mão
Era a chance de beijar a menina do coração
Meu amigo dava um toque nas costa com carinho
Quando era aquela morena de lábio macio.

O carrinho de rolimã na contramão
Descia levantando o poeirão
E quebrava o eixo nos buracos do chão
E esfolavam todos os dedos da mão.

O esconde-esconde era bom demais
Ninguém passava a gente para trás
No pega-pega a gente suava um horror
Parecia locomotiva a todo vapor.

A perna de pau toda torta
Feito a madeira furtada da porta
A ameixa e manga verde com sal
A barriga chega passava mal.

O chiclete guardado no pote de açúcar
Sinônimo de belas tapas na nuca
O chinelo quebrado, e preso com arame
Ainda dava para usar bastante.

As caxumbas dos dois lados
Ainda assim, de pés descalços
Era só amarrar um lenço preso a cabeça
De dia tudo bem, mas latejava a noite inteira.

E o prego enfiado no pé
Lavava tanto que acabava o chulé
Esse é o resumo de ser criança
Ter vida, ser feliz e não perder a esperança.


Wagner Almeida Posso.

Homenagem ao Rio Pedreirinha.

Pude brincar em uma lagoinha
Que se chamava pedreirinha
Onde nadava menino e menina
Em suas águas bem limpinha.

Ali eu pescava pela manhã e as tardinhas
Lambaris e ferozes trairinhas
Carás, caranguejos e cobra-dagua
Há infante saudade que me mata.

Minha maior alegria
Era acordar de manhãzinha
Cavoucar o chão dos terreiros
E colher minhocas em seus serpenteios.

Pegar minhas varinhas de bambu
Com o dorso sempre nu
Descia terrão abaixo
Com destino ao riacho.

Os pássaros aos montes como jamais se viu
Sabiás, bico-de-lacres e até tiziu
Febril na mente infantil
Se a linhada deixando ontem, algo produziu.

Há minha agonizante lagoa
O que o bicho homem fez com você?
Uma obra, um aterro a toa?
Sufocaram-te até morrer!
Aquela cena chocante
Em que olhei delirante
Cravou em meu pensamento
Que jamais esqueço aquele momento
Aquele lago tão bonito
Quase não acredito
Caudaloso em água fresquinha
Perdeu toda a água que tinha.

Oh, Meu Deus! Que imagem triste
Mas agora sei que existe
Eu jamais iria pensar
De um dia poder enxergar
A terra daquele lugar
Agora, até se pode pegar.

Só mesmo quem te conheceu
Sabe agora que morreu
Só nos resta pedir a Deus
Para a chuva que abastece
Vem logo em ti e desce
E te ressuscite antes que minha alma esmorece.

Sejas forte, natureza minha
Renasça mais forte da cinza
Recrie novamente seus peixes
Dê-nos mais de seus deleites.

Volte firme e caudalosa
Renove minha esperança de outrora
Mesmo que seja em meus pensamentos
Encubra esse barro agourento.

Volte sua águas a refletir a lua
Mostre ela no seu espelho, toda nua
E pela manhã evapore até as nuvens
Deixe os pardais molharem suas penugens.

Deixa a gente ficar descalço em ti
Volte a ser como um dia te vi
Faça o homem compreender
Que a natureza não pode padecer.

Natureza que me viu crescer
Natureza que vai me ver morrer
Engula a obra humana
Obra morta, fútil e profana.

Mostre toda sua força
Renasças com a chuva e a garoa
Volte pedreirinha querida
Volte para minha alegria
Deixe meus filhos em ti pescar
E aprenderem contigo a amar.



Wagner Almeida Posso.

19.10.06

Meu Sonho de Ontem.

Ontem tive um sonho, acordei feliz e sorrindo
Sonhei que eu vivia em um mundo mais tranqüilo
Nas ruas, os carros eram atropelados por cachorros
E todos os motoristas eram felizes e amorosos.
Ruas tinham ar puro sem o veneno do cano de descarga
E toda a humanidade se sentia mais amada.

O povo não era guiado e programado pelo computador
Nem comprado pelo político nem escravos do televisor
A televisão não era o membro mais importante da família
Os pais sentavam todos à mesa e comiam em harmonia.


O povo trabalhava para viver
E não viviam para trabalhar até morrer
Ninguém era preso por contestar o serviço militar
Eram encarcerados apenas os que queriam se alistar.

Os economistas não chamavam de nível de vida
O nível de consumo e a quantidade de bem que se tinha
E os cozinheiros passaram a entender em suas cozinhas
Que as lagostas não gostavam de serem servidas vivas.

Os homens não criam que países gostam de ser invadidos
O povo não enchia a barriga com promessas dos políticos
E o mundo não estava mais em guerra contra os pobres
Mas contra a pobreza dos homens nobres.

A indústria de arma sem faturamento declarou falência
Ninguém comprava arma e morria pela própria inocência
E ninguém morria de fome mais não
Porque não tinha mais rico morrendo de indigestão.


Os meninos pobres não eram tratados com desrespeito
Nem os meninos ricos eram tratados como dinheiro
A educação não era um privilégio de quem podia pagá-la
A polícia não era a maldição de quem não podia comprá-la.

A justiça e a liberdade eram gêmeas siamesas
Eram as mesmas para as riquezas e para as pobrezas
Uma mulher negra era presidente do Brasil
Eram respeitadas as cores verde, amarela, branca e azul anil.

A igreja distribuiu suas pedras preciosas para o povo
Doou suas terras em detrimento a um mundo novo
Os fiéis não recebiam a vida eterna pagas em ouro
Nem eram ovelhas tosquiadas indo direto ao matadouro.

Até que um estampido de tiro na madrugada escutei,
Aí, infelizmente deste sonho lindo acordei.

Wagner de Almeida Posso.

Imaginação, Fantasia ou Realidade?

Saímos uma noite para pescar
Eu e meu irmão Edson, podem acreditar
Levamos para comer, arroz com frango e salsicha
Bem feitinho pela mamãe, dentro da marmita.

Eu, com o catarro escorrendo até o chão
O Edson, com cem quilos de terra, na unha da mão
Quando chegamos ao rio Tuboi, doidinhos para pescar
Vimos uma cena de fazer qualquer coração parar.

Escondido atrás de uma quiçaça, vocês não vão crer
Lá estava brigando, o Curupira, o Lobisomem e o Saci Pererê
Corremos rio acima, no maior desespero
Demos de frente com o Negrinho Pastoreio
E tropeçamos no vestido da Loira do Banheiro.

Fomos perseguidos pelo Barba Ruiva e pelo Boi Tatá
Ai, que noite de “amargá”
Fomos intercedidos pela Mãe d’água Yara
Com seu lindo corpo e pele clara
Que namorava o Papa Figo, nas margens do rio acima
Acredite, nós vimos o forébis dela, branca e macia.

O Curupira acusava o Saci, de maltratar os animais
O Saci com medo, queria minha perna para correr mais
O Negrinho Pastoreiro chorava e xingava a toa
A Loira pedia para tirarmos o algodão de sua boca.

O Barba Ruiva blasfemava baixarias mil
O Lobisomem nos mostrava seu dente canil
E comigo, o Boi Tatá encardiu
A Mãe D’água Yara tentava mas nada podia fazer
E o Papa Figo, apaixonado, não queria se intrometer.

Até que meu irmão, fez algo de arrepiar
Ele avistou uma Mula sem Cabeça, por ali a pastar
Com a linha da varinha conseguiu a enlaçar
Montamos em sua costa e saímos a galopar.

Essa aventura eu guardo no coração
Saudade de minha infância, qual não esqueço mais não
Os bichos de hoje parecem mais ferozes
Atacam nossas crianças e são mais algozes.

Não oferecem a elas, balas, pipas, pião e alegrias
A telinha oferece vídeo game, traição e baixarias.

Sinto saudade dos medos de minha infância
Dos medos que brotavam da minha imaginação de criança
Hoje, o medo nasce a cada tiro na esquina
A maldade e a perversão são coisas da rotina.

Prefiro o meu medo infantil do Saci
Do que da briga de pai e filho que ontem vi
Prefiro meu medo infantil do Lobisomem
Do que a maldade do bicho homem.

Prefiro a ajuda da saudosa Mula sem Cabeça
Do que a ajuda daquele amigo que tem uma escopeta
E apesar do Curupira que tinha os pés para traz
Andava para frente, diferente do que o homem hoje faz.

Prefiro o medo do Papa Figo e da Loira do Banheiro
Do que as leis do governo, que põem o povo em desespero
Prefiro meu medo de criança dói Boi Tatá e do Barba Ruiva
Pois fazem menos mal, do que o político de barba escura.

Só não sinto falta do Pastoreiro Negrinho
Que lembra nossa podre história de racismo
Que a pigmentação da pele vale mais que as condutas
Pois homem branco também mata e deixa de calças curtas.

Há saudade de meus medos de criança,
Eles sim, guardarei com prazer na lembrança.


Wagner de Almeida Posso.

Outros Capítulos do Livro

Pura Verdade

Este fato ocorreu, no bairro onde nasci
Foi uma batalha travada, entre um búfalo e uma sucuri
Eu pescava com meu irmão Tom, vocês não vão se entediar
Em um riacho de nome ribeirão, e juro que posso provar.
Próximo a nós, tinha um bando de búfalos, no riacho a beber
Já era fim de tarde, já quase ao anoitecer
Eis que surgiu um alvoroço e o bando dispersou
Mas o que estranhamos, foi que um quadrúpede ficou.

Para nosso espanto, por estes olhos que a terra vai comer
Uma sucuri de trinta metros, no bicho enrolou e começou a espremer
Aí, literalmente o bicho pegou
A serpente no coitado enrolou
O chifrudo o pé no chão fincou
E de medo o meu calção forrou.
Os animais gritavam palavras de baixo calão
- Maldita, covarde, dentuça e bundão
E a gente com o fiofó na mão
Pois não dava para correr naquela escuridão.

Só que no apavoro a gente não sabia
Se caia desmaiado, se limpara as nádegas, ou corria
Até que algo incrível aconteceu
E vocês vão acreditar no que sucedeu.
O búfalo, com dez anos de malandragem
E uns quinze de chifre e coragem
Uma bela tática adotou
E nem a coitada da serpente se ligou.

O malaca, com a pressão da cobra, sentindo que ia morrer
Parou de berrar palavrão e começou a se encolher
Encolheu o máximo que seu fôlego permitia
E a dentuça inocente, cada vez mais espremia.
Quando a danada da cobra estava no auge da pressão
O quadrúpede soltou um enorme e sonoro peidão
Espalhou seu corpo todinho como um vulcão
E a megera, em vinte pedaços, espalhou-se pelo chão.

O danado saiu da água todo machão e festeiro
Olhando os pedaços da cobra com enorme desprezo
O sangue tingiu mil quilômetros do ribeirão
E a gente ainda, melecando o calção
Putzgriliz, com o ar aos pouco voltando no pulmão.
Quando dissemos que a história poderíamos provar
Pois sabíamos que os mais credos não iriam acreditar
Joguei meu calção defecado no chão
E da pele da cobra fiz um bermudão.

Esse caso de fato ocorreu na nossa infância
Mas caso vocês pensem ser uma infâmia
Já há trinta anos não sou mais criança.
Visite em minha cidade o ribeirão
A mancha de sangue ainda está naquele chão
Foi daquele sangue que surgiu a mancha no rabo do lambari
Também de lá surgiu pela violência à ira do tambaqui
Foi tentando apartar aquela briga, que perdeu a perna o Saci
E daquela maldade, surgiu por medo, a velocidade do Sagüi.
Ainda foi daquela cena, que surgiu o canto do bem-te-vi
Da carne da cobra, por cem anos, viverá um bando de colibri
E até hoje, procuro pelo meu irmão: Tom Bacuri.

É daquele sangue, o reflexo avermelhado do pôr-do-sol
Foi daquelas águas que surgiu o combustível metanol.
Wagner de Almeida Posso.
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ANDERSON DE ALMEIDA “TOM” POSSO
O jovem é mestre em Teoria Musical e Instrumentação,
Foi aluno e chegou a Encarregado na Congregação,
Passou como raio na prova de Oficialização,
Com orgulho digo: - Esse “monstro” é meu IRMÃO!

Formado em Flauta-doce com dom natural,
Pelo Villa-Lobos, renomado Conservatório Musical,
Aluno de Lafaiete Fausto na Escola Municipal,
Com Marilia Macedo se formou em Regência e Coral.

E para completar meu orgulho fraternal,
Provando que o cara não é normal,
Licenciou-se plenamente na Faculdade Carlos Gomes,
Louvado por diversas e conceituadas fontes,
Foi discípulo do Maestro Jocelei Boher,
Aquele que come musica com colher.

O prodígio fez Musicalidade Infantil,
É amado e querido pela turma juvenil,
Na Universidade de Musica Tom Jobim,
Avô da linda flor de nome Yasmim,
No Curso Regência de Banda e Orquestra, fez maestrias,
Formado pelo digníssimo Maestro Roberto Farias.

“Passeou” no curso de ensino coletivo na contramão,
Onde folgadamente aprimorou Sopro e Percussão,
Deixando boquiabertos, Dario Sotelo e Joel Barbosa,
E todos os amigos docentes daquela aclamada escola.
Alçou vôo rapidamente igual a um colibri,
No Festival Latino, Curso de Férias em Tatuí.

No Heitor Villa-Lobos, conceituado Instituto Cultural,
Foi professor de Flauta-doce e Estrutura Musical,
Regente e Tubista daquela banda fenomenal,
Coordenou o curso de Sopros, Praticas e Orquestra de Cordas,
O cara então é bom? – Oras, vê se não me amolas!

No Instituto Normal de Música,
Escola que até mestre assusta,
Foi Regente da Camerata,
Naquele palco parecia um magnata,
Professor de Flauta-doce e Percepção Musical,
Continuem lendo, - Esse cara não é normal!

Nos repertórios da Orquestra Experimental,
Do lendário e reformado Teatro Municipal,
Trabalhou como Inspetor e Arquivista Musical,
Professor de Bandas e Fanfarras da Secretaria Municipal,
Regente da Banda de Concerto de Bolsistas no festival.

Na Organização Social e Cultural Santa Marcelina,
O mais renomado Professor de Prática, Banda e Maestria,
Nos Pólos do Projeto Guri da Secretaria de Estado da Cultura,
Doa sua contribuição em detrimento a tirar menino da rua.

A Anderson de Almeida Posso, em versos simples ou prosa,
Dedico este cordel de forma tupiniquim e simplória,
Meu exemplo, meu orgulho e minha dedicação,
A quem Deus bondoso me deu como irmão,
Obrigado meu sábio e jovem amigo “Tom”,
Amamos-te de todo o coração.

Wagner de Almeida Posso

Mana Macaca
Minha maninha macacaBranquinha e peralta
Até em arvore subia
Fazia e acontecia.

Minha maninha querida
Que até empinava pipa
Que brigava feito a homem
Mais forte que um lobisomem.

Esta era minha irmã
Já sorridente pela manhã
Barbies e roupinhas? Que nada!
Esconde-esconde e queimada
Pique salva e lata-lata
E até o Judas no poste apedrejava.

Carinho e meiguice ela tinha
Mas de uma boa briga não fugia
Até ajudava a cuidar
Dos irmãos e do lar.

De carrinho de rolimã ela andava
E nas descidas, poeira levantava
Água do poço com sarilho ela tirava
Para lavar a sujeira que na orelha juntava.

Não gostava muito de estudar
Mas a melhor nota conseguia tirar
No beijo-abraço-aperto de mão agitava
Mas com nenhum menino ficava.

Hoje ela cresceu
Dela, filhas e filho nasceu
Mas aqui dentro do meu peito
Ficou uma saudade meia sem jeito
Daquele lindo rostinho
Sapeca e branquinho

Até nossa rua de barro virou asfalto
Acabaram com nosso mundo encantado
Mas uma coisa o tempo não deu fim:
Aquela menina com cheiro de jasmim
Ainda está bem juntinho de mim.

De Pai para Pai

Hoje vi seu protesto diante das câmeras de televisão
Contra a transferência de seu filho para outra prisão
Vi você queixando da distância que separa você de seu filho
Das dificuldades para visitá-lo, passou a ser difícil o caminho.

Vi ainda, toda a cobertura que a mídia televisiva deu ao fato
Sei que você tem apoio de comissões pastorais e do Estado
Eu também sou pai e compreendo seu protesto aguerrido
Faço coro a isso, também é distante a presença de meu filho.

Eu também trabalho, o que me impede de visitá-lo sempre
Só posso ir aos domingos, porque trabalho igual a muita gente
Felizmente conto com o apoio de meus parentes e amigos
Que me dão conforto, solidariedade e muitos carinhos.

Você sabe, sou o pai do jovem que seu filho matou
Naquele assalto onde seu filho o roubou e por fim estrangulou
Ele vinha do trabalho, apressado para não perder a aula
Ele tinha sonho de ser alguém, sempre com livros em sua mala.

No próximo domingo, quando você estiver com seu filho
Eu, com muita dificuldade, estarei fazendo um outro caminho
Estarei depositando flores em seu túmulo pobre, frio e sombrio
Com o peito dolorido, ajoelhado em um chão desconhecido.

E mesmo trabalhando muito com grande sofreguidão
Pagarei o colchão que seu filho queimou na rebelião
A única diferença é que eu não tenho ajuda do Estado não
Meu filho morreu, não está preso e não tenho auxílio-reclusão.

As vezes nas noites frias de tristeza e na ausências de amores
Até quando poderei suportar estas inversões de valores?
Onde os direitos humanos não são para humanos
E sim para quem tira a vida, para gente ruim e para insanos.

Outro dia pela manhã eu li uma nefasta notícia no jornal
Algo que acabou meu dia e me deixou muito mal
Um julgamento foi adiado em prol da autora que matou seus pais
E seus advogados estavam felizes em seus orgulhos doutorais
E eu com o salário-mínimo de trezentos e cinqüenta reais
E você feliz com o auxílio-reclusão de setecentos metais.

Mas vou continuar minha vida de saudade e a trabalhar
E com certeza que outro sufrágio está aí e nada vai mudar
Penso em vingança, choro, mas tenho que continuar
Pois ainda não vendi minha alma e ainda sei amar.


Wagner Almeida Posso

Pedido de um Pai.
Filho, quando na velhice eu derramar
Comida na roupa ou não conseguir os sapatos amarrar
Tenhas paciência e lembra-te das horas que passei
Ensinando-te as coisas que agora não sei.

Quando conversares comigo e eu repetir
As mesmas coisas que você esta cansado de ouvir
Não me interrompa, eu te peço, por favor
Repeti histórias de ninar nos seus sonhos de horror.

Não me reproves quando do banho eu fugir
Minhas pernas estão frágeis e posso cair
Lembre quantas vezes eu te persegui
A mil pretextos o seu banho eu consegui.

Quando me vires inútil e ignorante às novas tecnologias
Ou não conseguir acompanhar tuas manias
Lembra-te que lhe ensinei vestir e tantas outras coisas
Que te defendi das maldades das pessoas.

Se ao conversarmos eu esquecer do que estávamos falando
Tenhas paciência e me ajude a lembrar
Talvez o mais importante quando estávamos a falar
É que você estava perto de mim me escutando.

Se algum dia ouvires de mim que não quero mais viver
Pois é difícil ver a vida abandonando meu corpo a morrer
E lembra que se eu for, estarei sempre zelando por ti no além
Criando atalhos para você não ser mais fraco que ninguém.
Não te sintas triste ou impotente por me ver assim
Estou feliz e sinto um cheiro forte de jasmim
Acho que é do paraíso que espera por mim.

Não me olhes com cara de dó ou sofrimento
Suas brincadeiras e sorrisos sempre foi o meu alento
Como acompanhei com todo carinho o início da tua vida
Trate com paciência e suporte o término da minha.

Morro contente, pois criei um homem de bem
Parto feliz, com a cabeça erguida para o além.


Wagner Almeida Posso

Tributos aos Pais
Preciso de meus Pais...
Eles brigam a meu lado sem precisar ser convocado
E teimam em ser leal e justo, e me fazem sentir abraçado
Dizem-me verdades que não quero ouvir
Sem medo simplesmente de me ferir.

Preciso de meus Pais...
Criamos entre nós uma coisa misteriosa chamada amizade
Aprendemos em nossas almas não carregarmos maldade
Não vão embora quando não sou mais a sensação da festa
Ou quando o mundo grita que meu sonho já não presta.

Preciso de meus Pais...
Eles recebem com gratidão meu carinho, amor e auxílio
E por nada não me ponham jamais em exílio
Eles aceitam sempre minha mão estendida
Mesmo quando sua necessidade não seja preenchida.

Preciso de meus Pais...
Companheiros nas farras, tristezas e pescarias
Parceiro nas guerras e alegrias
E que no meio da tempestade gritam em coro comigo:
-Vamos rir disso tudo, calma, você é bom e tem amigos!!!

Preciso de meus Pais...
Eles empenham em me ensinar a amizade
Que eu escolha uma vida feliz, sem maldade
E que eu empenhe uma conduta certeira
De que a vida só é bela com uma amizade verdadeira.
Preciso de meus Pais...
Wagner Almeida Posso

Saudade da infância

Palavras simples que se balbucia
Que fere por dentro na calmaria
Que trás a lembrança da minha infância
E que mata aos poucos com pitadas de agonia.

Que faz pensar no que se passou
Que trás a certeza de que tudo mudou
E como bálsamo do tudo mudado
Fica no peito um grito calado.

Saudade sentida dos dias de alegrias
De lembranças jamais esquecidas
De convivências e harmonias
Que ora apunhala o peito sem carícias.

Há, saudade vil
Que deixa a gente febril
Que faz o coração bater a mil.

Eu quero, uma criança voltar a ser
Sair descalço ao amanhecer
Voltar todo encardido no entardecer
E dormir o sono dos anjos no anoitecer.

Deixa minha alma de criança sorrir novamente
Deixa-me viver de novo inconseqüente
Deixa-me ser eu simplesmente.

Volte, mas transcorrida em esperança
Volte tudo de belo que tenho fincado na lembrança
Faça de novo eu sorrir feita a criança.

Se não for possível voltar à infância, paciência
Então aceito a velhice com benevolência
Mas te peço Deus meu, uma ajuda
Mantenha a minha mente lúcida
Para que eu possa minha infância jamais esquecer
E nos olhos de meus netos poder ver, a infância em mim, por eles renascer.
Wagner Almeida Posso

Lamento de um Caipira
"Vô vortar pra minha terra
Na vidinha di cabloco
Vô trabaiá no roçado, nem qui fô pra rancá toco
O baruio da cidade esta mi deixano louco”

“A coisa aqui já tá pra rancar pica-pau do oco
Vô vivê lá onde é bão
Na vendinha do seu juão
A gente da quinhentão e ele inda vorta troco”

“Aqui num tem diversão
Muita coisa mi tormenta
A gente num vê o céu nessa cidade cinzenta
Fumaça das chaminé, já não tem tatu que arguenta
Num vejo a lua nascer, nem o sol quando entra"
"Meu sacrifício é tamanho
Muito pouco aqui eu ganho
Meus vizinhos são estranhos
Passam e não me comprimenta"

“Pau podre num dá cavaco, mas pra cortar é macio
Eu vivo aqui na cidade batendo em ferro frio
Só tenho a cabeça quente e o bolso sempre vazio
Purisso eu vou me embora, meu coração dicidiu
Vou me emprenhar na quiçaça, viver di pesca e caça
Morar num rancho di graça naquelas beira di rio”

“No ranchinho di sapé, amarrado com imbira
Pode falar quem quiser, mas de lá ninguém me tira
Deixo a minha rede armada e também sou firme na mira
Vejo a lua e as estrelas dispois que o sol se retira
É lá naquele lugá, Que sinto Deus mi visita.
Dinheiro não vai mi comprá, u meu jeito di caipira”.

Wagner Almeida Posso

Prisão na Febém

Ei, autoridade tenha compaixão
Tire os menores desta prisão
Já estamos todos com amarelão
Lavando roupa de pés no chão.
Lá vem a bóia do pessoal
Arroz cru e feijão sem sal
E logo atrás vem a batatinha
Que parece pedra de matar rolinha.
E junto a isso vem a laranjada
Que parece água de lavar privada
Imaginem senhores, o macarrão
Parece cola de colar balão.
E quando vem uma feijoada
O suíno está vivo, mas que maçada
E o bife com gosto de sabão
Só não é mais duro que meu colchão.
Aqui na cela, que era para seis
Tem dez pobres e dez burguês
Tem até uns quinze janopês
E acreditem, tem dois inglês.
Há, sua autoridade, tenha compaixão
Minha irmã na visita foi desrespeitada por um batalhão
Estou dormindo em “L” no chão
E está cheio de pulgas no meu calção.
Eu só rezo pedindo a Deus
Que perdoe os erros meu
Só ele que pode me ajudar
A minha liberdade, ainda vai chegar.
Eu nasci para ser livre
Mas pequei contra a liberdade de quem vive
Estou aqui pagando um preço que não é só meu
Seu delegado, me ajuda pelo amor de Deus.
Wagner Almeida Posso

Pescaria no Mar
Ontem eu fui pescar
Saí de casa direto para o mar
Desci a serra bem cedinho
Peguei os borrachudos ainda dormindo.

O dia estava para pescador
Fisguei peixe até com a elicie do motor
Para arremessar a linha no mar
Tinha que espantar os peixes para a isca afundar.

Ao colocar a isca
Juro que não é mentira
Tinha que iscar dentro do alçapão
Pois os peixes pegavam a isca da minha mão.

Peguei corvina de quinze metros com repolho
Medida de um olho ao outro olho
O comprimento então nem vou contar
Pois sei que vocês não irão acreditar.

A um descuido meu a vara caiu na água
Doeu no peito feito a corte de navalha
Prontamente com a outra vara a fisguei
Trouxe a vara e o peixe embarquei.

Para minha surpresa não dava nem para lanchar
Os peixes surrupiavam meu lanche e pulavam ao mar
Como eu já disse, para arremessar era um horror
Eu tinha que espantar os peixes com um ventilador.

Fisguei dourado, espada, bagre e até uma sereia
Cabelos encaracolados, olhos azul e muito faceira
Que cantou no meu ouvido a tarde inteira
E soltou todos os meus peixes na correnteza.

Sei que vocês dirão que estou mentindo
Porque bem sei que todo mundo mente
Tem quem mente até sorrindo
Tem quem mente com cara de inocente
O incrível é que pode até virar verdade
No fato que for surgindo.

Tem gente que mente na selva e no sertão
Tem mulher que sempre mente para o marido
Tem padre e pastor que mente para o sacristão
E todos os governos mentem para o povo
E em nova eleição volta a mentir de novo
Mentem descaradamente a todos da nação.
É o patrão que mente para o empregado
No pobre emprego triste e deslavado
Naquele aumento de salário esperado
É o empregado que mente para o patrão
Chega com o corpo todo enfaixado e quebrou a mão
E ainda, que sua terceira sogra morreu do coração.

Os autores mentem na televisão
Nas novelas escritas com emoção
Há também inverdades na escola
Que nos impõem feito à esmola.

A Princesa Isabel libertou os escravos
E que agora todos os negros estão salvos
Um grande e belo golpe de economia
Negros livres, sinônimo de mão de obra aquecida.

Tiradentes, o mártir da independência
Mentira que de tanto espremer virou crença
Precisava enforcar alguém do povo como exemplo
Aos interesses dos feudais naquele momento.

Mentira infelizmente já virou cultura
Na mente de toda a criatura
Só não mente a inocente criança
Pois sua verdade é mansa e não cansa.

Então minha inocente pescaria cabe aqui
Pois ninguém poderá provar que menti
Quem quiser viver estas aventuras, vamos pescar
No final de semana eu volto ao mar.

Wagner de Almeida Posso.

Mulher Completa

Caso o sinhô conheça
Não que eu mereça
Favor me apresentar
A mulher que quero amar.

Quero uma mulher completa
Com bigode, barba e nada modesta
Com estria, culote e celulite
E que esteja sempre com gripe.

Que tenha uma bela corcunda
E com roupa sempre imunda
Que ande cuspindo no chão
Que tenha unha suja na mão.

Caso o sinhô conheça
Não que eu mereça
Favor me apresentar
A mulher que quero amar.

Uma mulher que dirija sempre na contramão
Que em nossas brigas, bata minha cabeça no corrimão
Que fale alto e sempre cuspindo
Que põe minha vida em desalinho.

Uma mulher que só fica na casa da vizinha
E que faça fofoca todo o dia
Que coloque sal no meu café
E que tenha no pé um saudável odor de chulé.

Que não saiba nada de cozinha
Que tenha ciúmes da minha prima
Que deixe pendurado no banheiro sua calcinha
Que cutuca o nariz com o dedo em frente a visita
Que ande costumeiramente sem sutiã
E que me acorde gritando pela manhã.

Caso o sinhô conheça
Não que eu mereça
Favor me apresentar
A mulher que quero amar.

Uma mulher que esteja sempre mal humorada
Que me empurre pela ladeira da escada
Que cheire todo dia minha roupa quando chego
Mesmo que eu somente esteja vindo do emprego
Que por qualquer coisa entre em desespero
Que nela o cheiro de suor seja costumeiro.
Uma mulher assim
Todinha para mim
Que beba pinga pura no bar
Viciada em sinuca até o sol raiar
Que seja uma analfabeta em política
Saúde, economia, prendas do lar e medicina.

Que gaste todo nosso dinheiro no bingo
Que chegue de madrugada escondido
Que chute meu cachorro todo dia
E que dê ao meu gato formicida
Que ensine meu papagaio falar palavrão
Palavras infames e de baixo calão.

Que brigue com minha mãe e irmã
Que beba cerveja no café da manhã
Que a cada dois minutos fume um cigarro
E que ainda use pinico no quarto.

Que tenha apenas dois dentes na boca
Um que doa a noite toda
O outro que esteja em perfeito estado
Para que possa morder o meu braço.
Caso o sinhô conheça
Não que eu mereça
Favor me apresentar
A mulher que quero amar.

Wagner de Almeida Posso.

Vamos Priorizar.

Sou uma pessoa de vida modesta
Tenho diplomas, mas não sou poeta
Tenho um anel de bacharel
Mas não uso como troféu
Só busco os versos rabiscando um papel.

Sou um observador calado
Com um olhar desconfiado
Vejo minha gente sempre apressada
Com a mente sempre preocupada
No intuito de ganhar dinheiro
Vivem atrás do ouro em desespero.

Observo no centro, algo que me assusta
Na Avenida Paulista ou na Augusta
Um povo frio, ninguém fala com ninguém
No coletivo, na rua ou mesmo no trem
Fiquei observando uma cena na Consolação
Todos de um lado ao outro parecendo assombração.

Vi um povo robotizado, controlado pelo dinheiro
E que para isso, precisam sempre andar ligeiro
Nem precisam de placa no pescoço
Para mostrarem seu ar de desgosto
Pois são escravos do vil metal e do emprego
O que os torna um real pelego.

Vivem preso, no salário algemado
Obedientes feitos a gado
Esquecem a graça da vida dada por Deus
Vivem fantasias remotas e apogeus
Esquecem dos filhos e do lar
Os trocam por favores e amor vulgar.

Eu sei da importância do emprego
Viver dignamente e com respeito
Mas é preciso dosar as coisas da vida
O amor ao próximo é coisa perecida
O dom da caridade hoje é coisa esquecida
Amais uns aos outro, ficou apenas nas escritas
As palavras de Cristo hoje estão adormecidas.

Precisamos acordar para isto
Novela, promessa e comício
Sexo vulgar, dinheiro e drogas
Poder, sedução e paranóias
A nação precisa acordar
Voltar a viver e ao próximo amar.
Wagner Almeida Posso

Homenagem ao Amigo Fernando

Peço licença e um “causo” aqui vou contando
A história de um “mineirim” chamado Fernando
Um cara bacana e gente boa demais
Um parceiro que não esqueço jamais

Seu linguajar era um deleite
No café ele tomava um “LIDILEITE”

No almoço nós ríamos a vontade
Ele comia uma caixa de “MASTUMATE”

Ficava um graçinha na cozinha
Lavando os pratos “DENDAPIA”

No churrasco, ele não fazia charme
Comprava logo cem “KIDICARNE”

Um homem macho com muita gana
Era só a LENE gritar e já corria “DIBADACAMA”

Na caninha o cabra já foi fiel
Adorava uma “PINCUMÉL”

Um cara asseado e limpo feito à gente
Toda a manhã usava a “ISCODIDENTE”

Muito crente e não era prosa
Era devoto de “NOSSINHORA”

Gastava todo o seu abono
Assando pão “DENDUFORNO”

Ninguém pegava o cabra por trás
Pois o danado era “DOIDIMAIS”

Cabra valente, nascido na serra
Aos dezoito serviu o “TIDIGUERRA”

Acaba aqui a homenagem ao amigo Fernando
Porque meu tempo já está estourando
Mas eu teria um livro inteiro para contar
Seus palavreados que são de arrasar
Quando eu vou aí, seu grito não dá para esquecer
-Wagnão, “TARRACONTANSAUDADOCÊ”!!!

Valeu Nandão.

Wagner Almeida Posso

Acorda Brasil
Grito de uma CRIANÇA.


Ser criança em um país tão injusto
Onde sofremos com vis insultos
Vendendo bala no farol
E dormindo sem ter um lençol.
Movidos por uma silenciosa repressão
Vivendo numa verdadeira regressão
Em um país sofrido e calado
Diante de uma nova inquisição.
Os governantes não parecem sentir
Nós tentamos apenas alertar
Mas eles não conseguem ouvir
Que algo nesse país precisa melhorar.
E continuamos com olhar triste de criança
Alimentando a fome com a esperança
De um país hoje sem liderança
Cheio de promessa e só promessa de mudança.
Hoje, deitamos para dormir
Em cima de papelão rasgado
Com fome, sede e sem um destino a seguir
Que ontem foi o lixo de um deputado.
E amanha começamos tudo de novo
Andando de um jeito triste e calado
Malabarismo na frente do povo
E muito dinheiro correndo no senado.
Mas acreditamos nesse país chamado Brasil
Verde, amarelo, branco e azul anil
Que em seus lindos campos tem mais flores
Amanha seremos formados novos doutores
Para contestar os aumentos dos senadores.
Wagner de Almeida Posso

Infância...

O mais belo ciclo guardado na lembrança,
O sorriso ingênuo de uma criança,
Tempo de sonho, fantasia e esperança
Infância...
Sorrir com querer,
Amar sem saber,
Brincar pra valer,
Faltar aula ao adoecer,
Ser feliz sem temer.
Infância...
O que é obrigação?
É nadar no ribeirão?
É descer pelo corrimão?
É viajar pela imaginação?
É cantar uma linda canção?
É brincar do inverno ao verão?
Infância...
É dançar sem festa,
É correr sem pressa,
É pureza nas ações,
É sinceridade nas intenções.

Wagner de Almeida Posso.

Recordando 09 Velhas Brincadeiras
Peço licença para aqui poder relembrar,
Como era fácil ser feliz e brincar,
E como isso jamais pode morrer,
Vamos aqui de novo relembrar ou aprender.

1ª Brincadeira
Mãe da Mula

Essa é muito fácil de brincar,
É juntar as crianças e “dois ou um tirar”,
E coitado daquele que por último ficar,
Na cela o infeliz vai parar,
E receberá o nome de Mula,
Pois todos vão poder pular em sua corcunda.

A Mula fica com o tronco encurvado, olhando para o chão,
Mas poderá apoiar os joelhos com a mão,
A Mãe da Mula será o primeiro que elegeu,
No “dois ou um” em que venceu.

Colocamos a Mula no meio da rua, para começar a brincar,
E começando pela Mãe, devem pela costa da Mula pular,
A Mãe pula gritando “estreando a nova cela”
E todos devem fazer o mesmo, senão a brincadeira mela.

A mãe pula gritando “unha de gavião”,
Enfiando as unhas na costa da mula e o empurrando ao chão,
Todas as crianças devem à cena repetir,
E vai para no lugar da Mula quem não conseguir.

Se todos passarem por esta etapa,
Lá vem outra etapa engraçada,
A Mãe da mula pula gritando “um bife e uma batata”,
Batendo na costa da mula, uma mão aberta e outra fechada.

Em seguida é hora do “esborracha tomate”,
Essa etapa faz a gente rir que quase causa enfarte,
A Mãe da mula pula em sua costa a derrubando no chão,
E todos devem repetir esta situação.

Pode a Mãe ainda judiar de repente,
A coitada da mula com um “pastelão quente”,
Ela pula a Mula socando com as duas mãos suas costas,
E todos deverão repetir estas mesmas manobras.
Mas vocês não acham que a Mula já sofreu muito calado?
Vamos salva-la da cela com “cada macaco no seu galho”,
Quem não conseguir subir em algo e tirar os pés do chão,
E for pego pela Mula, irá substituí-la e sofrerá um montão.

Outra condição da Mãe salvar a Mula,
É pular sobre ela e gritar com bravura,
“Espingarda sem chumbo”,
E aquele que se abaixar, leva fumo,
Vai para no lugar da Mula e recomeça a brincadeira,
Sendo agora a ex-mula a Mãe desordeira.

E por aí vai às brincadeiras,
Podendo ser inventado muitas maneiras,
De a Mãe salvar a coitada da Mula,
E faze-la parar de sofrer na rua.

Vamos lembrar que isto é uma brincadeira,
E não se deve machucar o amiguinho de qualquer maneira,
O que vale é ser feliz divertir bastante,
Pois a infância passa em um instante.

Obs: ainda tinha "mandar cartinha para namorada" "03 chutes do rei Pelé" "esporinha de galo" "andar de carriola" "desarmar a espingardinha do vovô" "espingardinha de chumbo" "pular saco de batata" "pular muro de cemitério" e por aí seguia....

2ª Brincadeira
Corromeu

Esta brincadeira é muito bacana,
É muito simples e não gasta grana,
Vamos pegar uma sacola velha e enche-la de pano,
Amarra-la com corda de varal e já está tudo pronto.

Deixe a corda comprida, para quem for brincar segurar,
Elejam um rei, para a brincadeira comandar,
Então passo agora a explicar,
Como se brinca de Corromeu, eu vou contar.

O rei deve ficar sentado, segurando a bola,
Os outros devem segurar somente na corda,
A brincadeira é acertar,
A palavra que o rei perguntar,
E quando o rei gritar: - uma fruta com a letra A?
O menino que acertar a fruta que o rei pensar,
Ele gritará “Corromeu” para a bola liberar,
Poderá bater em todo mundo com a bola, mas sem machucar,
E somente irá parar, quando “Corromeu” o rei gritar.

Quem segurar a corda para não apanhar,
Dará o direito a quem acertar,
A castigar com três boladas o espertinho,
Porque ele não soube correr ligeirinho.

O rei poderá perguntar a iniciais de carros, de animais,
De peixes, de frutas, de insetos ou nomes pessoais,
E quem não responder certo e correr pouco, apanhará mais.

Se o rei errar,
Ele é quem vai apanhar,
Deve-se eleger outro em seu lugar,
E a brincadeira continuar.


3ª Brincadeira
Mãe da Rua

Esta brincadeira é muito bacana,
Pois é diversão garantida para qualquer criança,
Basta “dois ou um” todos tirar,
E o coitado que ficar em ultimo lugar,
A Mãe da Rua será.

É muito simples e funciona assim,
Prestem muita atenção em mim,
Desenhem um quadrado bem grande no chão,
Com um pedaço de giz, acerte bem a mão,

A Mãe da Rua deve ficar dentro do quadrado,
Com as mãos livres, mas com os olhos vendados,
Os outros devem atravessar o quadrado pulando,
Imitando um saci saltitando,
Mas podem empurrar a Mãe da Rua, com a mão,
A Mãe deve pegar um e colocar os dois pés dele no chão.

Quem for pego despercebido,
Vai receber como castigo,

E sair da brincadeira,
Mas arrumem uma maneira,
De não machucar o seu amigo,
Vamos nos divertir evitando o perigo.

4ª Brincadeira
Bandeirinha

Mais uma brincadeira vocês vão aprender,
E sei que vocês jamais irão esquecer,
Pode brincar menino e menina,
Nesta bagunça chamada “Bandeirinha”.

É preciso separar duas turmas em números iguais,
Para não deixar um time só forte demais,
Desenhar uma reta horizontal cortando a rua inteira,
E fazer a mesma coisa cinco passos à direita e a esquerda.

No meio das duas retas, desenhar um pequeno quadrado,
Pois ali colocaremos a “Bandeirinha”, ou mesmo um sapato,
A equipe vencedora será aquela que conseguir arrastar,
A equipe adversária em seu campo e a dominar,
Lembrando uma regra que não se pode quebrar,
Os dois pés do adversário, em seu campo devem estar,
Se ele estiver pulando em um pé, nada vai adiantar.

Os que forem presos ficam atrás da “Bandeirinha” adversária,
Não participam mais da queda em nada,
A equipe que trazer a “Bandeirinha” rival para seu lado,
Será eleita campeã e o jogo estará terminado.


5ª Brincadeira
Lata em Lata

Essa brincadeira, que agora eu vou relatar,
É muito bacana e fácil de brincar,
Latas de óleo usadas vocês devem achar,
E a regra agora vou explicar.

O primeiro jogador deve arremessar sua lata,
O outro deverá acertá-la numa simples jogada,
Após as tentativas, o felizardo que acertou,
Terá o direito de ser carregado nas costas até onde sua lata parou.


6ª Brincadeira
Corre Cotia

Vamos agora relembrar o Corre Cotia,
Onde se brinca menino e menina,
Devemos ter um lencinho na mão,
E desenhar um grande círculo no chão.


Agora todos devem na linha do círculo sentar,
E apenas um em pé, a bagunça vai começar,
O garoto com o lenço deverá em volta de o círculo correr,
O que ela cantar, todos devem responder:

Todos os que estiverem sentados,
Deverão ficar com os olhos fechados,
E o corredor escolherá um para o lencinho atrás dele jogar,
E após a cantiga, o escolhido deverá o corredor pegar.

A musica é muito fácil de decorar,
Então vamos cantar:


(Corredor canta) - Corre Cotia!
(Sentados respondem) - De noite e de dia!
(Corredor canta): - Debaixo da cama!
(Sentados respondem): - Da sua Tia!
(Corredor canta) - Corre Cipó!
(Sentados respondem) - Na casa da vovó!
(Corredor canta) - Lencinho branco!
(Sentados respondem) - Caiu no chão!
(Corredor canta) - Moça bonita!
(Sentados respondem) - Do meu coração!
(Corredor canta) - Galo que canta!
(Sentados respondem) - Corococó!
(Corredor canta) - Chupa cana!
(Sentados respondem) - Com um dente só!
(Corredor pergunta) – Posso jogar?
(Sentados respondem) - Pode!
(Corredor pergunta) – E se da Cotia eu fugir?
(Sentados respondem) – Da brincadeira ela vai sair!


7ª Brincadeira
Lá Vem Cabral

Esta brincadeira faz a língua enrolar,
Você deve repetir tudo o que eu falar,
O escolhido será quem eu apontar,
E aquele que engasgar,
Da brincadeira vai se retirar.

Eu falo e sem erro você deve repetir,
Tem que responder ligeiro e sem refletir,
- Lá vem Cabral!
- Lá vem o cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem o pau que matou o cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem o fogo que queimou o pau que matou o cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou o cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou o cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem a pedra que amolou a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem o homem que pegou a pedra que amolou a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem o tigre que comeu o homem que pegou a pedra que amolou a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem a flecha que matou o tigre que comeu o homem que pegou a pedra que amolou a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem o índio que atirou a flecha que matou o tigre que comeu o homem que pegou a pedra que amolou a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!
- Lá vem a morte que levou o índio que atirou a flecha que matou o tigre que comeu o homem que pegou a pedra que amolou a faca que matou a vaca que bebeu a água que apagou o fogo que queimou o pau que matou cachorro que mordeu Cabral!

8ª – Brincadeira
Detetive – Ladrão e Vítima.

Esta brincadeira é fácil de aprender,
Em um pedaço de papel devemos escrever,

As palavras Detetive e Ladrão e depois recortar,
E a palavra ladrão, somadas às crianças que vão brincar.

Só pode haver um detetive e um ladrão,
E diversas vítimas de prontidão.
A brincadeira começa assim,
Prestem muita atenção em mim,

Todos os papeizinhos vamos dobrar,
E na mesa vamos espalhar.

Cada um pega o seu e volte a seu lugar,
O ladrão com muito cuidado, para as vítimas deve piscar,

E as vítimas não podem o ladrão entregar,
Se ele te piscar, grita: - Morri! E é só aguardar,

O detetive muito atento deve ficar,
Para o ladrão ele poder pegar.

Se morrer três vítimas e o detetive não descobrir o ladrão,
Ele tomará de todas as vítimas, uma tapa na mão.

9ª Brincadeira
Beijo, Abraço e Aperto de Mão.
Quem um dia não brincou
Quem na infância não se apaixonou
Pela amiguinha da escola ou da vila
Lembranças que nos trás nostalgia.

Meu primeiro beijo aconteceu assim
Beijinho com cheirinho de jasmim.

Esta brincadeira era muito legal
A gente ria que passava mal
Era só juntarmos os amiguinhos
Meninas e meninos.

Elegiam na sorte do “dois ou um”
Dois sortudos em comum
Um para ser o apontador
E o outro para ser o escolhedor.

As demais crianças ficavam de frente
E todos se encostavam à parede
O apontador tava os olhos do escolhedor
Reinava um silêncio que era um horror.

O apontador começava sua missão
Apontando cada um com a mão
Lógico que sempre mudando a direção
Para colocar o escolhedor na maior confusão.

Apontava e perguntava: É esse? Que emoção!
O escolhedor intuitivamente dizia sim ou não
Quando enfim, sua opção era sim
Era gritada em coro a pergunta assim:

- BEIJO, ABRAÇO OU APERTO DE MÃO?

Aí o bicho pegava
O escolhedor sem saber de nada
Tinha que dizer sua opção
Se o beijo, se o abraço ou aperto de mão.

Tinha que ter muita sorte para acertar
A menina que queria beijar
Ou beijaria muito contrariado
Seu amiguinho da casa ao lado (ECA)

Mas como toda criança é esperta
Burlar as regras era coisa certa
Era fácil com o apontador combinar
Uma dedada na costa sem ninguém notar
E a linda garotinha dos sonhos beijar.
Wagner de Almeida Posso


Benedito Adão de Almeida
Memória Póstuma em versos e prosas

ESPECIAL

Não direi adeus, vovô “Ditinho”
Mesmo com o coração em vil desalinho
Nem prantearei por sua morte
Bem sei que fostes para melhor sorte.

Optarei por recordar nossas brincadeiras
Suas gargalhadas ponderadas, mas festeiras
Suas pregações de fé, amor e perdão
Que ainda é bálsamo no meu coração.

Prefiro recordar em sua memória
O seu amor a nós doado outrora
Quando descíamos rumo ao rio usina
Para fisgar lambari, cará e traíra.

Quando íamos serelepe colher gravetos na escuridão
Corações felizes, rindo, com pés descalços ao chão
Para assarmos na brasa batata ou suculento pinhão
Na cozinha feita de pau trançado, com barro batido a mão
Ouvindo de sua majestosa harmônica uma linda canção
Qual era a minha e a sua preferida: Saudade do Matão.

Tu viveste uma vida boa, mas suada
Uma vida serena, mas ultimamente nada calma
Mesmo sofrendo não blasfemaste em sua alma
A veste branca de homem fiel a Deus usava
E mesmo Moribundo a qualquer visita sempre acatava
Viveu na terra o árduo cargo de cooperador
Ensinou a paz, a alegria, e repreendeu as crianças com amor.

Tu foste companheiro na fé e na conversão das almas
Anjo nas horas difíceis, com palavras brandas e calmas
E no meio das tempestades gritaste em coro pela fé:
- Calma, lembrem a história de David, Salomão ou Jessé!
Tu empenhaste sempre em ensinar às crianças a verdade
A viver uma vida feliz, com temor a Deus e sem maldade.

Tu não aceitaste ser guiado pelos programas ou computador
Nem foste comprado por políticos ou televisor
A televisão não foi o membro mais importante da tua vida
Preferias sentar a mesa e comer com toda a família.

Tu sempre decretaste à indústria da arma, a falência
Para ninguém comprar arma e morrer, pela própria inocência
Dissestes que ninguém morreria de fome não
Se não houvesse ricos morrendo de congestão.

Nunca aceitaste que meninos pobres fossem tratados com desrespeito
Nem que meninos ricos fossem tratados como dinheiro
Entendia que a educação não deveria ser privilégio de quem a podia pagá-la
E que a polícia não deveria ser a maldição de quem não pode comprá-la.

Apregoaste que a justiça e liberdade deveriam ser gêmeas siamesas
Que as mesmas deveriam ser iguais para pobrezas ou riquezas
E que a igreja católica deveria distribuir suas pedras preciosas para o povo
Deveriam doar suas terras em detrimento a um mundo novo.

Sempre pregaste que os fiéis não recebiam a vida eterna paga com ouro
Nem deveriam ser ovelhas tosquiadas indo direto ao matadouro
Estas lições de amor fincaram profundo em meu peito
É por isso que sua morte não me trouxe receio.

Partiu um homem nobre e reto de coração em seu apogeu
Hoje, estais sentado a destra do nosso poderoso Deus
Aguardando o dia do juízo no sonho dos justos
Livre do perverso e dos pecados imundos.
Tu foste um diamante provado pelo calor da opressão
Mas resististe o pecado, a inveja, a agonia da carne e a ilusão
Venceste tua batalha e conquistou teu galardão
Deixando a todos seus entes e irmãos de fé, uma linda lição.
Um milhão de Saudades, VOVÔ.
Wagner de Almeida Posso
Neto

Kichute convertido em nostalgia.

Não sei por que ou sei lá de onde,
Recordei hoje fatos de meu passado,
Das lembranças que a mente esconde,
Memórias que brotaram como afago.

Recordei do velho Kichute amarrado ao pé,
Lona preta, cravos poderosos e muito chulé,
Companheiro na chuva, na missa ou pescaria,
Meu Deus, obrigado por esta lembrança querida.

Com ele calçado eu me sentia invencível,
Fora que eu me sentia chique por demais,
Trazia-me asas aos pés e velocidade incrível,
Cadarço enrolado na canela, isso não volta mais.

Brincadeiras de pega-pega e esconde-esconde,
Lembranças que já vai lá longe,
Mãe da rua ou mãe da mula e bandeirinha,
Com Kichute? Eu era o Herói de rotina.

Com ele eu chutava pedra e até barranco,
Para meu orgulho e para as meninas: espanto,
Pulava corda a qualquer altura,
Parecia ter mola na junta.

Servia também como freio da velha bicicleta enferrujada,
E do carrinho de rolimã voando pela ladeira esburacada,
Podia lavá-lo com zelo na água da enxurrada,
Ou com a água no tanque empossada.

Até essa lembrança suja que agora vou contar,
Isso que fique entre nós, não convém espalhar,
Entre os cravos do Kichute era fácil esconder,
O velho mascado chiclete, a mamãe jamais iria perceber.

Correr atrás da pipa mandada era fichinha,
Ou empinar papagaio com cortante na linha,
Ou ainda recolher as linhadas no riacho da pedreirinha,
Pegando carás, tilápias, lambaris e ferozes trairinhas.
Ei, alguém tem um pra me vender?
Wagner de Almeida Posso

Pedido de Perdão

Papai do céu, eu peço aqui perdão,
Aqui em baixo vivemos com sofreguidão,
Estamos acabando com sua criação,
Fogo na mata, derrubadas e apagão,

A mãe natureza mingua a cada dia,
As estações já estão distorcidas,
Já não se sabe se é primavera ou verão,
Se inverno é outono ou se dia é escuridão.

Estamos acabando com nossas matas,
Nossas águas se tornaram escassas,
Nossas casas se tornaram celas,
Com tantas grades nas janelas,
Nossos pássaros cantam nos fios de alta tensão,
Não tem árvores mais nas casas, só cimentação.

Eu mesmo tinha um quintal lindo,
Na minha ameixeira tinha até ninho escondido,
Tinha até pé de uva japonesa,
Eucalipto majestoso, com grande sombreira.

Tinha bananeira e pé de pinhão,
Tinha grilo cantando na escuridão,
No abacateiro, eu tinha uma balança de Tarzan,
Qual balançava de noite e de manhã.

Tinha um pés de goiabas frondosos,
Qual se podia colher frutos saborosos,
Nem era preciso arrancar a minhoca cega,
Bastava levantar um vaso podre da terra.

Tinha flores na terra plantada,
Hoje vivem em vasos com falta de água,
Tinha frutos colhidos na hora,
Hoje compro na feira uma fruta horrorosa.

Onde tinha pé de goiaba, ameixa e pinhão,
Hoje no cimento, tem dois carros a prestação,
Onde tinha uma cerca de arame farpado,
Hoje tem um portão elétrico que vive trancado.

Onde a água da chuva era tragada pela terra,
Hoje entope os esgotos e doença gera,
Onde eu plantava couve e agrião,
Alface, pimenta, abóbora e limão,
Cimentei tudo e deixei a água sem vasão.

Onde se podia ouvir a chuva no telhado,
E dormir com aquele barulhinho sagrado,
Hoje quase não se dorme com estampidos de tiros,
Disparados não por policiais, mas por meninos.

Onde eu plantava pé de couve e agrião,
Alface, pimenta, amendoim e limão,
Cimentei tudo e deixei a água sem vasão,
Onde tinha galhos, hoje construí um corrimão.

Onde era rotina ouvir o sapo cachoar,
Onde se podia ver a constelação brilhar,
O pulo do tiziu, o revoar das andorinhas,
Prevendo chuva pelas manhãs e tardinhas,
Onde se avistava o vôo rasante dos anus,
Onde a gente sonhava voar igual aos urubus,
Hoje ouvimos famílias brigar e chorar,
As estrelas quase não se podem notar,
Os tizius e a andorinhas migraram para serra do mar,
As chuvas não têm mais hora para começar ou estiar,
Onde vivem os anus se só sabemos desmatar,
Como sonhar em voar se não temos onde pousar.

Onde anda aquele galo a cacarejar,
Anunciando um novo dia a chegar,
Onde anda a perua trocando pintinho por garrafa,
Onde anda o vendedor fazendo fanfarra e vendendo cocada,
Onde eu posso trocar meus fios de cobres,
Como vou apedrejar os "Judas" nos postes,
Para quem vou gritar “pedra ou bala”,
Se a televisão hoje a criança cala,
Se os vendedores não têm mais alma.

O que fiz com a terra que o senhor me deu,
Coloquei cimento em tudo e mato algum sobreviveu,
Espantei os pássaros do aconchego de meu quintal,
Hoje as cores são cinza predominam o natural,
Acabei com a oportunidade de meus meninos,
Saborearem frutos verdes ou amadurecidos,
Colhidos do pé sem químicas ou custeio,
Ou correrem atrás de galinha no terreiro.

Papai do céu lhe peço perdão,
Achei que progredi, mas não,
Acabei com sua obra por pura ilusão,
Um podre homem sem noção,
Que sofre pela insensatez da civilização.

Wagner de Almeida Posso.

Pedido de Demissão.

Venho através desta,
Apresentar o pedido que me resta,
Minha demissão da categoria de adulto,
Para voltar a ser criança sem indulto.

Quero de volta as minhas responsabilidades,
Mas vivendo no meu mundo sem maldades,
Voltar a acreditar em um mundo justo e infalível,
Com pessoas honestas e tudo possível.

Voltar a me encantar,
Com a beleza do mar,
Com o aprendiz das simples ações,
Voltar uma vida sem complicações.

Cansei de dias cheios de computadores,
Com falhas de sistemas e provedores,
Sem uma montanha de papelada,
Sem notícias deprimentes e política safada.

Sem a necessidade de atribuir,
Valor monetário a cada item sem sorrir,
Sem fazer mágicas e inventar meios,
De o salário agüentar até os próximos pagamentos.

Não quero ser obrigado a dizer adeus a meu pai,
Com o risco de não vê-lo nunca mais,
Nem dizer adeus a outras pessoas queridas,
Que partem, levando parte de nossas vidas.

Quero voltar a viajar ao redor do mundo,
No barquinho de papel em um sonho profundo,
Ou nele navegar pelos mares e rios com curvas,
Dentro de uma poça deixada pelas chuvas.

Quero de novo recolher uma pedrinha achatada,
Fazê-la saltar cinco vezes no rio de água gelada,
Quero achar que as moedinhas de chocolate,
Sejam melhores que as moedas de verdade.

Quero voltar a acreditar que chocolate e chiclete,
São as melhores coisas na vida de um pivete,
Quero ter todo o tempo necessário para ver,
O caju, a manga e a jabuticaba no pé, amadurecer.

Quero voltar a sentar na praia, cheio de areia,
Construir a casa de meus sonhos, ouvindo uma sereia,
Quero participar de competição, mas de jogo de botão,
Não de concurso de emprego ou profissão, e sair dela como grande campeão.

Quero voltar as minhas velhas cantigas,
Batatinha quando nasce, esparrama pela marmita,
Atirei o pau no gato ou adeus Sarita,
Sem se preocupar se a letra toda em sabia.

Quero voltar à feliz ignorância da vida,
Alheio a tudo que não sorria,
Poder acreditar nas lendas e fantasias e sonhos acontecidos,
Na verdade, na paz, na justiça das histórias em quadrinhos.

Quero de novo mergulhar nas poças de chuva,
Sem ao menos ser devedor de qualquer fatura,
Poder ralar o joelho na queda da escada,
Mas sem queda de falência decretada.

Por isso me demito hoje da vida de adulto outra vez,
Corra atrás de mim, o pegador está com vocês.

Atenciosamente.
Assinado: criança ino

cente.
Quem Sou Eu?

Já viajei pelo mundo inteiro
Fui do Japão ao nordeste brasileiro
Sem gastar um mísero centavo
Fiz o rei do Egito se curvar calado
Já fui o melhor palhaço
Em um velho picadeiro surrado
Afundei sem culpa o dedo no nariz
Fiz criança sorrir simplesmente feliz

Já fui o melhor cirurgião plástico
Mudei muitas feições com passe mágico
Plastifiquei meu próprio rosto no agreste
Com um simples estouro de chiclete
Fui o melhor pintor de minha época
Fui eu que pintei o arco-íris na terra
Com um simples molho de espaguete pintei
Na camisa branca de missa que ganhei

Construí cidades inteiras
Sem ferragens e mãos certeiras
Usando apenas areia do mar
Construí castelos e altar
Com muitos monstros lutei e venci
Matei dragões e lobisomens eu vi
Venci o monstro debaixo da minha cama
Que me assombrava com seus olhos em chama

Comi muitas nuvens do céu
Algodão doce desenhado em folha de papel
Girei muito em um lindo carrossel
Rodopiando em minha balança ao léu
Fui forçado a dormir bem cedo com pijama azul
Fugi pela janela e mergulhei nas cataratas do Iguaçu
Fui legionário na Roma antiga
Nunca tive batalha perdida
Conquistei a Mesopotâmia com o Alexandre
Venci os Gauleses com Cesar, o grande
Sem poção mágica de qualquer druida
Apenas com catapultas na madrugada fria
Fui conselheiro do rei Salomão
A pirâmide foi minha primeira construção
Fui eu que inventei a funda modesta
Com a qual Golias tomou uma pedrada na testa

Da causa de Robin hood fui patrocinador
Do rei Ricardo coração de leão fui contador
Enforquei o malvado príncipe João
Casei com Lady Marian com benção do padre bonachão
Fui eu o príncipe da bela adormecida
Beijei aquela boca doce e macia
Tentei impedir a guerra de secessão
Batalha cruel entre próprios irmãos

Vi o bichinha do Nero por fogo em Roma
Vi o Brutus trair o pai na própria cama
Lutei no Coliseu como gladiador
Matei leão, derrubei a biga do horror
Enrolei Tutacamon com enorme faixa
Para ficar com a Cleópatra de graça
Com Moisés cruzei o mar vermelho
Dei um chute na bunda do Caim traiçoeiro

Acho que já sabem que sou
Uma criança que do sonho acordou
Agora sou adulto neste mundo real
Acabaram minhas ilusões, voltei à vida normal
Não sou mais herói e sim contribuinte
De entes tributantes famintos e indecentes
Vampiros que sugam o sangue do povo
Quero dormir, ser criança e sonhar de novo.

Wagner de Almeida Posso


Meu Cantinho (paródia).

Eu nasci em um bairro feliz,
Bem distante da civilização,
É aqui que vivo como aprendiz,
Com papai, mamãe, família e irmãos.

A nossa casa tinha furo nos tetos,
Tijolo com barro batido a mão,
Um cercado para guardar os trecos,
Um poço, um sarilho e água do chão.

No quintal tinha fogão de lenha,
Umas verduras que mamãe plantava,
Um banheiro que no quintal a gente usava,
No rancho, as traias de pesca papai guardava.

De manhã quando eu acordava,
Uma espiga de milho eu pegava,
Debuiava e no chão eu jogava,
Num instante as galinhas juntava.

Nosso Aero Willis conservado a brilhar,
Quatro marchas que só funcionava a primeira,
Sem gasolina para o danado pegar,
Então ficava encostado na ameixeira.

Todos os sábados íamos a igreja,
Outros dias passeávamos de bobeira,
O papai acelerando a barca,
E no estradão, subia a poeira.

Nosso cantinho era cercado,
Com bambu e pau cortado,
As verduras fresquinhas iguais mato,
Esse era meu mundo encantado.

O bairro virou vila grande,
A saudade se manteve ao meu lado,
O barro virou grande asfalto,
Acabou-se meu mundo encantado.

Hoje existem duas coisas,
Que o tempo ainda não deu fim,
O papai e a mamãe ainda vivem,
E estão bem juntinhos de mim.

Wagner de Almeida Posso.


Ouro de Tolo

Na corrida pelo ouro,
Ninguém quer subtração,
Quem tem cem deseja mil,
Ao ter mil, quer milhão,
Depois de velho e cansado,
Vê que perdeu o passado,
E que o presente é exaustão.

Por inveja ou a ambição,
Muita gente tem vivido,
Enquanto soma as riquezas,
Seu tempo é subtraído,
E depois que perde a saúde,
Não tem dinheiro que lhe ajude,
Torna-se rico falido.

O seu tesouro escondido,
Conquistado com trapaça,
Fica sempre mais inútil,
A cada dia que passa.
Tudo o que sempre sonhou,
Teve, mas não desfrutou,
Serviu pra que, qual a graça?

Sua noite é uma devassa,
E a madrugada uma eternidade,
Tendo por companhia o ego,
A depressão que te invade.
Sem tempo para reagir,
Sempre vivendo pela maldade,
Sobra angustia dor e saudade.

Perdeu a flor da idade,
Concentrado no seu sonho,
Hoje, cansado e doente,
Pesaroso e enfadonho.
Conseguiu o seu tesouro,
Mas é esse ouro de tolo,
Que lhe deixa mais tristonho.

Seu pesadelo é medonho,
Seu corpo perde calor,
Tem tudo que o ouro compra,
Inclusive a própria dor.
Vive em seu mundo isolado,
Com tanto ouro guardado,
E a vida não tem valor.

Nunca conquistaste um grande amor,
Nem sequer fiel companhia,
Mergulhado em seu sonho,
Competição de negócios e correrias.
Hoje sozinho em seu canto,
Mata sede com o pranto,
Que vem da alma vazia.

A paz que tanto queria,
É uma guerra de horrores,
Conseguiu ser respeitado,
Ser senhor entre os senhores.
Sem sequer ter um afago,
Embriaga-se com um trago,
No cálice das próprias dores.

Esqueceu tantos valores,
Buscando um objetivo,
Magoou e atropelou,
Às vezes até sem motivo.
Para depois ficar sozinho,
Bebendo o amargo vinho,
Da safra de um morto vivo.

Quem passou pelo seu crivo,
Decerto ficou decepcionado,
Seu jogo não permitia,
Ter final empatado.
Buscou tanto enriquecer,
Que a medida do ter,
O deixou exterminado.

Par que tanto ouro acumulado,
E não conseguir viver?
Porque perseguir um sonho,
Realiza-lo e sofrer?
A vida é pra ser vivida,
Não pra se ter por media,
Só a medida de ter.

Acorda infeliz!!!!



Perguntas e risos...

Quem somos nós agora
Os pobres de outrora?
Somos “Vossa Excelência”
Driblando a inocência?

Os meus bandidos de outrora
Viraram mocinhos agora?
Bato no peito ao estudo desprezar
Para que? Se até aqui eu pude chegar?

Posso até usar a máquina publica
Para eleger minha parceira de luta?
Posso dizer a meus vizinhos
Que não sei o que ocorre no meu próprio ninho?

Também posso comprar caças importados
Preferencialmente superfaturados?
Eleitor é uma raça de idiotas
Pedintes em nossas portas?

Posso barras as CPI’s como a da Petrobras
Do mensalão, cuecão e outros mais?
Posso esquecer a concessão de asilo humano
Para agradar um companheiro Cubano?

Posso destinar ajuda do meu exercito a Honduras
Mesmo imperando o horror em minhas favelas escuras?
O Ali Babá e os quarentas ladrões ainda estão soltos?
Creiam, os eleitores idiotas aplaudirá nossos arrotos.

Nos meus discursos terei que repetir com exaustão
Para todos os meus pobres e famigerados cidadãos?
Não se pintem, não expressem vossa indignação
Sabem que podem ser presos por estarem na contramão?

Será que convido a deputada dançarina
Para ser meu par no carnaval de Brasília?
Ou se dou uma vaia a esta terra tupiniquim
De tolerantes populares, com longo estopim?

Para que grande número de denúncias de horrores
Se as resolvemos nos acordos de bastidores?
Seria eu o cara como o amigo manifestou
Ou ele ria de mim, quando falou?

Wagner de A Posso

MAROLINHA
Eta marolinha alta,
Que não enjoa, mata,
O sofrido povo brasileiro,
Com carnê e sem dinheiro.

Vocês aí no Planalto,
Bom salário e prato farto,
Não minimize as agonias,
Dos pagadores de vossas regalias.

Eta marolinha grande,
Que já passou de tsuname,
Marola que enjoa e faz vomitar,
Mas sem nada no estômago pra soltar.

Autoridade eminente,
Digníssimo Senhor Presidente,
Não sorria e nem minta pra gente,
Não nos faça mais imbecis e discrentes,
Chega de caganeira verbal em nossas mentes.

Não aplaudam nossas desconquistas não,
Já estão nos propondo busca e apreensão,
E mesmo aquele baratinho quilinho de feijão,
Já está custando quase um fabuloso milhão,
Se pretenderem nada fazer e sorrir da situação,
Calem-se, mas não aumentem nossa desilusão.

Marolinha que causa dor, tristeza e desemprego,
Infração que motiva o crime e ocasiona tiro certeiro,
Marolinha que começou bem antes da arrebentação,
E que termina em nossa praia de codinome ilusão.

Wagner de Almeida Posso.



Circo e Pão

Sendo grave a situação da economia
Vergonhosa a corrupção e a hipocrisia
Se o desemprego gera carestia
Ora, a qual artifício recorrer?
Dê-nos pão, circo e BBB.
Se for incerto o futuro nacional
Se esta falida a segurança social
Se o estudo é um sonho irreal
Ao que a política deve recorrer?
Ora, dê-nos futebol e BBB.
Mantenha nossa seleção
Firme na competição
Esqueceremos o desemprego
Nem lamentaremos à falta de dinheiro
A exploração do trabalho infantil
Pintaremos nossa rua, febril
Branca, verde, amarelo e azul anil
A destruição das nossas florestas?
Ora, dêem-nos boas e divertidas novelas.
Se ainda continuar as bandalheiras
Se o crescimento nacional for incerteza
Se ainda deturpam os processos eleitorais
Se parasitas anulam votos como animais
Disparem os holofotes para a seleção
Deixando a realidade abaixo da ficção.
Mantenha-nos na estratégia da diversão
Mais briga de irmãos na televisão
Mantenha nossa atenção distraída
Nossas mentes adormecidas
Que não percebamos os problemas sociais
Que nos deliciemos em sonhos irreais
Sem questionarmos, como meros animais
Ora, o que fazer para a massa não pensar?
Não de a essa, tempo de raciocinar.Ora, dêem-nos mais circos, então,
Para que não percebamos que temos menos pão.
Wagner de Almeida Posso

Ditados Populares

Diz a sabedoria e sapiência popular
Que a cada dia do labutar
Quem trabalha muito tende a muito errar
Quem trabalha pouco, pouco pode falhar
Quem não trabalha não erra e é bem sucedido
Recebe tapinhas na costa e é promovido.

Dizem que casamento não é coisa de cristão
Pois começa no motel e termina em "pensão"
Acaba ao se engolir tantos sapos pela estrada
E quando a perereca não é mais provada
Ou quando se descobre que um jardineiro
Teve a sorte como algoz traiçoeiro
Tendo um filho florzinha
E uma filha trepadeira

Pergunta-se qual mulher
Em uma noite qualquer
Comeu uma caixa de bis por ansiedade
Ou um pé de alface por vaidade
Ou um cafajeste por saudade
Ou foi tratada como bom vinho
Foi mantida na horizontal no escurinho
E já que machismo é coisa pouca
Mantida com uma feliz rolha na boca

Diz ainda a sapiência popular
Algo que é bem fácil afirmar
Para trás é fácil a mulher passar
Passar adiante... há, isso é de amargar
E você certamente acabará por escutar:
- Comeu a carne? O osso vai chupar!

Mas também tem os ditos feministas
Com frases vis e vinganças felinas
Onde os homens preferem as virgens maníacas
Pois na maioria dos casos não suportam criticas
Ou um homem para ser interessante, por um dia
Deve no mínimo ser americano ou inglês, ser turista.

Ou porque homens têm crise de meia-idade
Choram, sofrem e sentem muita saudade
Porque eles ficam estagnados na adolescência
E da cintura para baixo alegam dormência

Perguntam qual a diferença entre homem e porco
Coisa fácil de verificar sem qualquer esforço
Os porcos não viram homens quando bebem
E quando solicitados sempre comparecem.

Diz ainda o famigerado ditado feminista popular
A coisa que a mulher não suporta ou merece escutar
É quando estão tendo um sexo bom e de qualidade
E pegas de surpresa são obrigadas a voltar a realidade
Ouvindo o tinar da campanhia soando o marido chegar.
shuahsuahsuahs!!!
Wagner de Almeida Posso

Declaração de IRRF do Caipira

Si ocê cair na maia fina
Da Receita Federar
Por incaxar dispesas di mintira
Mior si apreparar.

Si ocê vacilou i decrarou dependenti dimais
Declarou inté os cãos dus seus ancestrais
Podi cumeçar a isperniar i correr atraiz
Modi que u chicoti vai istralar inda mais.

I si decrarô dependenti cum renda
Mas a renda deli num decrarou
Ocê criou nu borso inorme fenda
I ali memu ocê si interrou.

Si ocê deu uma di isperto
Tentandu passar u lião pra traiz
- Quarquer coisa ritificu i cunserto!
Ocê vais si istrepar inda mais.

Elis podem vortar cincu ano
Fuçandu sua vida la traiz
I as besteras vão achano
I seu buracu armenta mais.

I si ocê decrarar rendimentu menor
Aí u trem federá i ficará inda maior
A cagueta da DIRF é feita pra ti intregar
I nu cruzamentu elis purcertu vão ti pegar.

Si du nada seus bens armentar
I ocê passar a tudu decrarar
Cum sua rendinha qui é di lascar
Ocê tombem podi si istrepar.

Dívidas ocê jamais vai puder isconder
Pois mesmu ocê pagandu dívida inté morrer
Us bancus além das taxas i aburrecimentos
Inda ti intregam cuns informis di rendimentos.

A receita intendi que na sua atividadi ruruar
Ocê devi pagar impostu inté du mato nu quintar
Quem dirá na coieita du arfacer, cove i agrião
Qui cum a baixa du dólar num sobra nem um tustão.

Inda ocê fica na duvida quandu é cunvidadu
A si ixpricar para um fiscar gordu i forgadu
Cum qui ropa ocê devi la cumparecer
Si vai di bota suja do enlamecer
Preli ficar cum dó di vosmecê
Ou si vai cum ropa di missa lavada na água benta
Pra mostrar siriedadi, riligião i inocência.

Aí ocê sai di lá cum as duas certesas na vida
Certesas qui di ocê ninguém mais tira
Um carnê recheadim di prestação
I qui num vai mais sobrar nem pru pão.

Wagner de Armeida Possu

Guerra dos Sexos

Fazer amor, é arte,
Ficar hoje, faz parte,
Engravidar, é moda,
Assumir, é que é roça.

A diferença entre uma mulher na TPM,
E um seqüestrador inconseqüente,
É que com este ainda existe, acreditem ou não,
Uma vasta possibilidade de negociação.

Segundo as mulheres do Brasil,
Um país verde, amarelo, branco e azul anil,
Que tem problemas angulares,
Onde futebol e mulheres são artes,
Discutidas em mesas redondas armadas,
Por um monte de bestas quadradas.

Casar é trocar a admiração,
De várias mulheres e paixão,
Pela crítica de uma só,
Isso que dá dó.

O chifre é como o consórcio,
Sempre um mau negócio,
Quando você esta quieto, fiel e calado,
Você simplesmente é contemplado.
Sogra é como onça: temos que preservar,
Mas ter em casa, ninguém quer aceitar.
A diferença entre a mulher decidida,
E o homem infiel e mulherengo,
É que a mulher é sempre querida,
E o homem um excremento,
Onde ela está sempre pronta para o que der e vier,
E ele sempre pronto para quem vier e der.

Nessa briga de côncavos e convexos,
Ninguém vencerá a guerra dos sexos,
Tem paixões, separações e costumes esquisitos,
Mas muita confraternização o entre os inimigos.

Wagner de Almeida Posso.

A Loira do Banheiro
Versão Atualizada


Na minha mais tenra infância
Fatos que ainda guardo na lembrança
Tinha a história da Loira do Banheiro
Que teve um fim trágico e traiçoeiro.

Contam que a protagonista foi uma menina
Com cabelos loiros, olhos verdes, muito bonita
Que estudava em uma escola da rede publica
E que por preguiça ou mera astúcia
Ficava no banheiro para aulas matar
Até o infeliz e fatídico acidente chegar.

Um dia, algo terrível aconteceu
A loira escorregou e a cabeça bateu
No piso molhado do banheiro
E o estado de coma foi certeiro.

Do infeliz acidente veio a falecer
Em seus quinze anos veio a perecer
E mesmo sem permissão paterna
Os médicos fizeram autopsia nela
E com o fim prematuro inconformada
Não permitiu que descansasse sua alma.

Mesmo a história sendo real ou crendice tola
A loirinha com o algodão na orelha e boca
Cor pálida, bela silhueta, vestido longo e vermelho
Passou a assombrar as criançinhas no banheiro.

Mas hoje saberemos a verdade
Até pediram para que eu me calasse
Mas a VERDADE irei escrever
Doa em quem doer.

No banheiro, uma loira pervertida
Folheando uma revista masculina
Equilibrou-se no vaso sanitário
Daquele branco, liso e surrado
Para passar a revista à outra menina.

Nisso, a danada escorregou
E na parede a cabeça arrebentou
Morreu em um gemido quase calado
E a menina no vaso ao lado
Com medo de ser pega com a calcinha no chão
E com a perversa revista de sexo na mão
Saiu com a piriquita molhada do vaso sanitário
E escondeu a revista dentro do seu armário.

Eu VI TUDO, eu estava lá
Vocês podem acreditar
Com um espelhinho preso no ki chute
Eu sempre fazia isso, não se assuste,
Olhando as meninas por debaixo da porta
Há meu deus, vi coisas horrorosas.

Como não fui chamado para depor o fato
Guardei este fato por muitos anos calado
A menina
mentiu para o delegado
Mas hoje corajosamente reabro o caso.

E tem mais, eu TAMBÉM VI
Quem arrancou a perna do saci

O autor da espadada certeira
Que aleijou a mula sem cabeça

Quem foi a infeliz política
Que entortou os pés do curupira

Quem enterrou no formigueiro
O Negrinho do Pastoreio

Eu sei de tudo, podem acreditar
E aqui em breve vou revelar
Os leitores podem aguardar.
Wagner de Almeida Posso
Será que você é substituível?

É costumeiro e corriqueiro na empresa
Uma frase que ouço com muita tristeza
Em tom de ameaça infeliz e incompreensível:
- Aqui ninguém é insubstituível!

Bons homens baixam a cabeça
Ótimos profissionais desviam o olhar
Fica visível o medo e a incerteza
E trabalho em outros empregos vão buscar.

Uma frase impensada e infeliz
Sem nenhum preparo por quem diz
Sempre procurando culpados na gestão
De sua própria e despreparada administração.

Persistem, com esdrúxulo orgulho afirmar
Que cortes e retaliações irão efetuar
Pois ninguém tem talento a brilhar
Ou que são homens incorrigíveis
Mas não homens insubstituíveis.

Ficam algumas perguntas no ar
Perguntas que não se fazem calar:
- Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna?
- Ghandi? Frank Sinatra? Santos Dumont? Garrincha?
- Monteiro Lobato? Elvis Presley? Beatles? Jorge Amado?
- Pelé? Paul Newman? Albert Einstein? Picasso?

Todos esses talentos marcaram a história,
Fazendo o provável e o improvável outrora
Cada ser humano tem sua contribuição a dar
Basta líderes saberem tarefas a estes destinar.

Erros e deficiências são comuns e aceitáveis
Bethovem era surdo e Picasso com braços instáveis
Elvis em suas canções não estudou sequer uma nota
Garrincha, raquítico e tinha perna torta
Albert Einstein com notas baixas na escola
Monteiro Lobato, desacreditavam de sua obra.

Está na hora desse mito infeliz mudar
Neste conceito todos devem repensar
Foquemos nos pontos fortes dos seres humanos
De seus erros e fraquezas, façamos meros enganos
Busquemos o sucesso de nossos projetos
Sem culpar simplesmente colaboradores honestos.

Somos únicos e Insubstituíveis no que bem fazemos.
Wagner de Almeida

Comunicado da Nova Diretoria
Indumentárias
Caríssimos Colaboradores,
Vimos informar aos senhores,
Que todos deverão trabalhar vestido,
De acordo com o salário percebido.
Se notarmos alguém usando tênis e roupas do momento,
Presumiremos estar ganhando bem e não precisar de aumento.
Se notarmos alguém se vestindo simples e de forma pobre,
Entenderemos que este não teve a melhor sorte,
E que está precisando controlar seu sustento,
Não precisando assim, de qualquer aumento.
E se percebermos alguém vestido ao meio termo,
Consideraremos este empregado em estado perfeito,
Não precisando assim, de qualquer aumento.
Ausência devido à enfermidade
Não iremos mais aceitar atestado médico,
O desconto do dia, feriado e domingo será certo,
Pois, se podes ir ao consultório se examinar,
Podes muito bem vir para a empresa trabalhar.
As cirurgias estão proibidas a partir de agora,
Enquanto trabalharem na empresa nossa,
Não poderão remover órgão qualquer,
Seja homem, gay ou mesmo mulher,
Nós o contratamos por inteiro,
Remover algo é quebra de contrato certeiro,
Afinal, todos terão 104 dias no ano,
Para assuntos particulares ou desenganos,
E estes dias já estão definidos:
- Aos sábados e aos domingos!
Falecimento de ente querido
Isto não será mais justificado,
Para perda de um dia de trabalho,
Não há nada que você possa fazer a seu ente querido,
Se ele estiver clinicamente falecido.
Nisso, todos os esforços deverão ser empenhados,
Por familiar ou amigo que estiver desempregado,
Nos raros casos em que o empregado for necessário,
Para depois do expediente, o enterro deverá ser marcado,
Somente e somente mesmo, em rara condição,
Abriremos com enorme e comovida exceção,
Do empregado em sua hora de almoço trabalhar
Para poder 01(uma) hora mais cedo se ausentar.
Afastamento por auxílio maternidade
Gravidez não é doença,
Não impede no trabalho a permanência,
Da colaboradora que está prenha (kkkkkk)
Esta não poderá se ausentar,
Devendo aqui mesmo a luz dar,
Temos corpo médico e inspetores de segurança,
Quais saberão extrair com cuidado vossa criança (kkkkkkk)
Ao que sabemos os seios servem para amamentar,
E as mãos permanecem livres para trabalhar.

Ausência devido à própria morte

Caso o empregado venha por morte natural falecer,
Esta desculpa nós poderemos entender,
Desde que seja avisado com 15 dias de antecedência,
E já tendo treinado outro empregado para repor sua ausência.

Portanto, toda dúvida, deboche ou preocupação,
Reclamação, frustração, comentários ou irritação,
Agravo, insinuação, blasfêmias ou mera alegação,
Acusação, consternação ou mesmo simples observação,
Deverão se dirigir com a carteira de trabalho em mãos,
Para livremente, assinarem seu pedido de demissão.

Atenciosamente,

Nova Diretoria

Shuashuashuashuashau........................

Wagner de Almeida Posso.

Análise de um Pingaiada

Quando uma manada de búfalos é caçada,
Atacada por uma leoa faminta e desalmada,
Só os búfalos mais lentos ou mais fracos,
Em geral os doentes, é quem vão pro saco,
Ou seja, os que estão atrás do rebanho,
São mortos primeiro sem qualquer engano.

Essa seleção natural é boa para a manada,
Porque aumenta a uma velocidade considerada,
A corrida e a saúde de todo o rebanho,
Mesmo parecendo estranho,
Pela matança regular dos seus membros mais fracos,
Simplesmente para alimentar leões folgados.

De forma parecida opera nos cérebros humanos:
Beber álcool em excesso, como nós sabemos, mata neurônios,
Mas, naturalmente, ele ataca os neurônios mais fracos e lentos primeiro,
Nos coitadinhos o álcool é contundente e certeiro.
Neste caso, o consumo regular de cerveja,
Cachaça, uísque, vinho, rum, vodka ou outra bebedeira,
Elimina os neurônios mais lentos, tornando seu cérebro uma máquina,
Mais rápida e eficiente igual a do poeta que estes versos retrata.
E mais: está comprovado de que 23% dos acidentes de trânsito,
Que ocorrem na cidade, nas estradas, avenidas e por todo canto,
São provocados pelo álcool contido nas bebidas,
Ou seja, 23% são alcoólatras que fazem porcarias.

Isto significa que os outros 77% dos acidentes,
São causados por sóbrios inocentes,
Filhas da mãe que bebem água, suco e refrigerantes,
E que do álcool se dizem abominados e distantes.
Leitor deste conceituado blog, seja esperto,
Colabore com o trânsito e vá agora mesmo para o boteco.
Humor a parte, exclua a droga do álcool de sua vida!

Wagner de Almeida Posso.



Eleição Na Periferia

vem o povo,
Povo aqui, povo acolá,
Lá vem o povo,
Novamente a sufragar.
O povo pateta,
Votou no palhaço,
Retardou a megera,
Elegeu o despreparado,
Pulou de partido,
Para outros aloprados,
Levará muitos coices,
Que criará muitos galos.
Se não sobrará pedaço,
Nem de jenipapo,
Como ficar engasgado,
Com dor no papo?
Cairemos no poço,
Quebraremos a tigela,
Tantas fazem os moços,
Que iremos para panela.

Lá vem o povo,
Povo aqui, povo acolá,
Lá vem o povo,
Novamente a votar.

Todo sujo o chão,
Panfletos de mensalão,
Boca de urna a disposição,
Eleitores em vã discussão,
Carros na contramão,
Escolas alagadas, então,
Crianças pedintes, fumaça no pulmão.

Lá foi o povo,
Povo ali, povo acolá,
Lá foi o povo,
Novamente a chorar.
Wagner de Almeida Posso.


R$25,00

O pai chegou em casa tarde do trabalho,
Cansado, faminto, irritado e chateado,
Encontrou o seu filho de 05 anos,
Em frente à porta lhe esperando.
- Pai, posso fazer-lhe uma pergunta?
O homem se assusta:
- O que é, o que você quer agora?
- Pai, quanto você ganha em uma hora?
- Isso não é da sua conta!
A resposta já veio pronta,
- Porque você esta perguntando isso?
Diz o homem agressivo.
- Eu só preciso saber!
- Por favor, me responda agora!
- Me diga, quanto você ganha em uma hora?
- Ganho R$ 50, 00, vê se não me amola!
- "Ah..." o menino respondeu!
E cabisbaixo desapareceu,
Mas em cinco minutos o menino voltou,
E novamente ao pai perguntou:
- Pai, pode me emprestar R$ 25,00?
O pai estava furioso até não caber mais:
- Vá direto para o seu quarto e vá para a cama!
- E vai sem um pio, antes que apanha!

O menino entrou no quarto e fechou a porta,
O homem sentou nervoso e de cara torta.
Depois do intervalo de uma hora,
O homem tinha se acalmado e começou a pensar,
Talvez houvesse algo que ele realmente precisava comprar,
Lembrou que o menino não pedia dinheiro com freqüência
Levantou-se e foi a sua presença.

- Você está dormindo, meu filho? Perguntou,
- Não pai, estou acordado! O garoto triste soluçou,
- Eu estive pensando, meu filho,
- E talvez eu tenha sido muito duro contigo!
- Aqui estão os R$ 25 que você me pediu.
O menino se levantou e sorriu.
- Oh, deus te abençoe, meu pai,
- O senhor é bom demais.

E, debaixo do travesseiro amassado,
O menino puxou alguns trocados,
O homem sem nada entender,
Começou novamente a se enfurecer.

- Por que você queria mais dinheiro, seu indecente?
- Porque eu não tinha o suficiente!
-Mas agora eu tenho, respondeu o menino,
- E quero fazer um acordo contigo!
- Papai, eu tenho R$ 50 agora,
- Posso comprar do seu tempo uma hora?
- Chegue em casa mais cedo amanhã, por favor.
- Eu gostaria muito de jantar com o senhor!
O pai ficou arrasado...
Engoliu um soluço calado...
Abraçou seu filho, e pediu o seu perdão,
E prometeu lhe dar mais atenção.

Fica aqui uma pequena lembrança
A quem tem excesso de trabalho em constância,
Não deixemos ficarem a sós,
Quem realmente importa a nós.
Wagner de Almeida Posso

Pequena VALDEREZ

Um e-mail trouxe saudades no peito,
De abraçar a velha amiga de jeito,
Saudade da menina Valderez
Menina que Deus pai fez.

Eita, danada saudade cruel,
Tão perto e tão distante com certeza!
Saudade amarga de uma amiga fiel,
Distancia que causa dor e tristeza.

Ainda lembro dos nossos dias,
Dos desempregos e desalegrias,
O trem de ferro lotado,
O pé sendo pisoteado.

O dinheirinho trocado,
Que só dava para um salgado,
Um enroladinho de queijo,
Dividido certinho ao meio,
Uma garrafa de coca-cola,
Uma lembrança só nossa.

Nossos passeios a Pindamonhangaba,
Outras vezes, a cidade de Araraquara,
Sempre juntos iguais a irmãos,
Não havia qualquer solidão,
Subindo rumo a Campos do Jordão.

Valderez, Gislene, Baixinha e Renata,
Serginho, Lindomázio e Max peralta,
Alex, Paulo, Gleice e a grande Bia,
Cristina, Tuco, Tico e Luizão,
Valéria, Fátima, Marlene e Adão.

Gente nossa, saudade do passado,
Que convivi com Val, lado a lado,
Dos passeios de bondinho ao Piracuama,
Águas cristalinas e muita lama,
O Balneário das águas claras,
Eita saudade brava.

O hino do silêncio,
Tocado a cada culto,
Eu ainda me lembro,
De seu pequeno vulto,
Poderosa organista
Daquelas que nunca desafina.

Val, minha fiel amiga,
Para onde o vento te levou?
Onde andas pequena menina,
Meu hino, você nunca mais tocou?

Espero que o bom Pai,
Não nos deixe jamais,
Guie-te pelas veredas da Paz,
E cumpra o desejo de teu coração,
Peçamos isso numa só oração.

Wagner de Almeida Posso.

 
Doarei “QUASE” tudo
Dentro de mim habita uma vontade,
Que certamente passarei adiante,
E saibam todos que esta verdade,
Poderá tornar-se interessante.
Aqueles que necessitarem, eu me doarei,
Mesmo não sendo assim peças tão raras,
Não mais me servirão para onde irei,
Por isso, não há porque sepulta-las.
Meus olhos poderão continuar,
A ver o mundo que já não verei,
De emoção certamente hão de chorar,
Por belas coisas que também chorei,
E até aquela graça que desperdicei,
Meus olhos por outro verá o que não terei.

Creio que ainda, tenho um cérebro privilegiado,
Quem sabe até dois rins quase perfeitos,
Meu coração por vezes machucado,
Há de pulsar mais forte noutro peito.
Somente não doarei cabelos, pois, não convém,
Doar aquilo que não se tem.
Um coração cheio de amor e sedento de carinho,
Que doarei a quem necessitar,
Para que como eu, ainda que sozinho,
Com muito amor o saiba conservar.
Um coração mesmo que em desalinho,
Pelas não conquistas de alguns sonhos meus,
Que seguirá por certo, outro destino,
Sonhando sonhos totalmente seus.

Eu não doarei meu perseguido,
Guerreiro, feroz e aguerrido,
Este levarei fielmente ao túmulo comigo,
Quem sabe se dele, acaso eu preciso.

Também como não doei em mil vidas,
Minhas nádegas brancas e arredias,
Também não o farei em morte,
Ela certamente terá outra sorte,
Vai que ela caia em corpo errado,
Quem sabe um tranvestido mal amado,
Faz pena até em pensar,
O mal que a infeliz vai passar,
Ela certamente será comida pela mãe terra,
Isso não se discute, isso é coisa certa.

Enquanto seguirei noutro destino,
Onde já não precisarei de quase nada,
Levando apenas nesse meu caminho,
Uma única certeza, a de ser lembrança lembrada.
Meu coração há de pousar no peito
De alguém que sonhe tanto quanto eu,
Alimentando os sonhos do seu jeito,
Deixando aos necessitados os frutos que colheu.

Wagner de Almeida Posso.

A MULHER QUE TINHA SACO


Quando cheguei em São Paulo,
Estranhei muito a cidade,
Automóveis e humanos,
Na maior velocidade,
Eu, um CAIPIRA pacato,
Nascido no meio do mato,
Quase não tinha maldade.

Logo de cara arrumei,
Emprego no Bradescão,
Mal o pagamento dava,
Para pagar a pensão,
Meu divertimento era,
Parque do Carmo em Itaquera,
E ficar com o pé no chão.

O pior de tudo era,
Agüentar a solidão,
Eu que sou feio que dói,
Ninguém me queria não,
Batia-me o desespero,
Que nem colher de pedreiro,
E me acabava na contramão.

O meu colega de quarto,
Vendo-me no desespero,
Disse:-vai no cabaré,
Nem gasta muito dinheiro,
No início relutei,
Mas depois não aguentei,
Fui procurar o zoneio.

Fui pro centro da cidade,
Pegar uma gostosona,
Perguntei ”prum” conterrâneo:
-Amigo, onde fica a zona?
Disse-me: -Lá na Rego Freitas,
Tem cada loira perfeita,
Que lembra até a Madonna.

Quando cheguei numa rua
De nome Amaral Gurgel,
Perguntei a uma morena,
Que tinha olhos de mel,
Quanto custa o nhem, nhem?
Ela disse:- Eu cobro cem,
Com inclusão do hotel.

Eu disse então vamos lá,
Que eu estou seco demais,
Com a vontade que estou,
Traço até um capataz,
Eu vou de lado,
De pé, de costa, deitado,
De frente, verso e por trás.

No caminho fui percebendo,
Que ela era anormal,
Tinha um corpo avantajado,
E um pé descomunal,
Mas pensei, eu tou à toa,
E mulher é coisa boa,
De qualquer jeito vai ser legal.

Ela foi tirando a roupa,
Deu-me uma coisinha,
Mas quando chegou a hora,
De ela tirar a calcinha,
È que a coisa ficou feia,
A mulher tinha uma torneira,
Que dava umas três da minha.

Eu fiquei admirado,
Ao ver a mulher despida,
Tinha visto mulher macho,
Mulher pequena e comprida,
Até com cabelo no sovaco,
Agora mulher de saco,
Nunca vi na minha vida.

O pior que ela já tava,
Com o negócio eriçado,
Olhou-me dum jeito esquisito,
Pensei, eu tou é lascado,
Valei-me meu santo Augusto,
Será que depois de adulto,
Eu vou ser desvirginado?

Quase que saí gritando,
Debandado na carreira,
Pensei, se eu ficar aqui,
Eu vou entrar na madeira,
E pelo o tamanho da tora,
Eu juro que estou fora.

Ela olhou dentro dos meus olhos,
Passou a mão no meu peito,
Eu disse, vamos com calma,
Deite que depois eu deito,
A peste ficou deitado,
E disse assim: venha gato,
Pode me pegar de jeito.

Disse: - Eu me chamava Ivo,
Agora me chamo Ivone,
A nádega é original,
Os seios de silicone,
Sou uma quase mulher,
Deixo se você quiser,
Pegar no meu microfone.

Fiquei desorientado,
Vendo aquela coisa nua,
Pensei vou sair correndo,
Senão vou ver estrela na lua,
Ai eu pensei, nem morta:
Eu taquei o pé na porta,
Saí correndo pra rua.

O pior aconteceu,
O traveco foi atrás,
Eu correndo pelas ruas,
Já não agüentava mais,
Eu lá quase desmaiando,
O peste me acompanhando,
Parecia o satanás.

O pior foi que pintou a polícia,
Por causa da correria,
Com os gritos meu e da vadia,
Expliquei que era inocente,
Quase quebraram meu dente.

Já não dá pra saber mais,
Quem é mulher, quem é macho,
O mundo está esquisito,
É bom sossegar o facho,
Hoje quando saio com uma prima,
É uma mão lá em cima,
E outra conferindo em baixo.

Divulgar o Autor? kkkkkkkk.... Melhor não....


Vai Abestaiado

Tenho uma passagem na vida,
Daquelas a não ser esquecida,
E por querer compartilhar,
E neste blog decidi postar.
Eu, um garoto desempregado,
Jovem simples e pacato,
Rumo a cidade parti,
Visando emprego conseguir.

Combinei com alguns amigos,
E levei comigo uns primos,
Eram ratos da cidade,
Gente simples e sem maldade...
Lembro como se fosse hoje,
Em uma sexta-feira qualquer,
E eu já com dor nos pés,
No cruzamento da Ipiranga e São João,
Em frente a uma casa de diversão.

Era uma boate vespertina,
E a convite do segurança gorila,
Convencidos a entrar,
Para ao menos um gole tragar.
Ao adentrarmos na boate,
Um recinto escarlate,
Fiquei admirado com a beleza,
Parecia uma fortaleza,
Muitas luzes a piscar,
Muito luxo no lugar.

No chão havia muita cadeira,
No centro do palco uma banheira,
E dentro dela, coberta inteira de espuma,
Uma linda morena na penumbra,
Com seios fartos e cabelos compridos,
Mostrando seios, bunda e vincos.

Um homem bem vestido junto ao palco,
Com terno bonito e rosto cheio de talco,
Pediu licença para começar o leilão,
Ele tinha pequenos pedaços de pano na mão,
Escritos em cada um, as partes da morena,
Quem comprasse, enxugaria a pequena.
Ele propunha a cada comprador,
A venda de um pano por pequeno valor.

Tinha pano de seios, coxas e bunda,
Pano dos lábios, joelhos e da lua,
Eu que nunca tinha visto uma mulher nua,
Veio um arrepio dos pés até a nuca.
E com o incentivo de meus amigos,
Pelas palmas dos espectadores e primos,
Comprei logo o pano da lua,
Para enxugar a morena nua.

O povo gritava alucinado,
E o vendedor no palco,
Solicitou que eu fosse ao encontro da morena,
Para deliciar-me com minha prenda.
Eu, meio tímido, mas muito a fim,
Com um baita calor danado em mim,
Resolvi aceitar a brincadeira,
Subi todo prosa para enxugar a morena.

Quando cheguei perto da deusa,
Apareceram do nada duas bestas,
Jogaram-me com roupa e tudo na piscina,
E rapidamente sumiram com a menina.
E eu fiquei lá, molhado com cara de bundão,
Sendo motivo de riso para toda a multidão.

Somente me deram uma toalha seca,
E me explicaram que era brincadeira,
Molhei todos meus documentos,
Voltei no trem tremendo,
Peguei uma gripe tremenda,
Mas feliz, pensando na morena.

Wagner de Almeida Posso.


Parlamentar


Um Senador estava andando tranqüilamente,
Foi atropelado e a morte foi conseqüente,
No paraíso chegou sua alma,
E deu de cara com São Pedro na entrada.

- Bem vindo ao paraíso, diz São Pedro!
Um velhinho barbudo e sorriso festeiro,
- Mas antes que você entre, temos algo a decidir!
- Raramente vemos um parlamentar por aqui!
- Não sabemos bem o que fazer com o senhor!
- Não vejo problema, diz o Senador!
- Deixe-me entrar e acabou!

- Bem que eu gostaria, mas temos ordens superiores aqui!
- Nem tudo eu posso sozinho decidir!
- Façamos o seguinte: Você passa um dia no inferno!
- E no outro dia, fico aguardando o seu regresso!

São Pedro o acompanha até um elevador,
E descem até um inferno sem qualquer calor,
E o que viu, vislumbrou o senador,
Um lindo campo de golfe, um jardim bem arrumado,
E todos os seus amigos quais havia trabalhado,
Tinha Senador, Advogado, Juiz e deputado,
Todos felizes, bem barbeados e em traje social,
O cumprimentaram em um abraço fraternal.

Jogaram uma partida descontraída, sem se safar,
Depois comeram camarão, lagosta e caviar,
Da desgraça do povo começaram a lembrar,
E o diabo feliz sorria sem parar.

O senador divertiu tanto e quase perdeu a hora,
Mas levantou-se, pegou o elevador e foi embora,
Subiu ao paraíso e novamente foi recebido por S.Pedro,
Com o mesmo sorriso franco e costumeiro.

O senador passou o dia junto a um grupo de almas,
Feliz, pulando de nuvem em nuvem e tocando harpas,
Antes que ele percebesse, o dia passa e volta o velhinho,
E lhe faz a pergunta esperada, sempre sorrindo:
- Você passou um dia no inferno e outro no paraíso!
- Chegou a hora de você definir qual será o seu destino!

Prontamente o parlamentar respondeu:
- S.Pedro, peça por mim mil desculpas a Deus!
- Já sei onde viverei a minha vida eterna!
- Muito obrigado, mas o inferno me espera!

Novamente o excelentíssimo Senador,
Desce ao inferno pelo mesmo elevador,
Abre a porta e se vê frente a um terreno baldio,
Vê os amigos todos rasgados, famintos, comendo lixo,
Pegando entulhos em meio a uma podridão,
Desamparados na própria desilusão.

O diabo passa o braço pelo ombro do Senador,
E
este perplexo exclama todo o seu dissabor:
- Não estou entendendo, estive ontem aqui!
- Onde está tudo de lindo e belo que vi?

O diabo olha para ele e diz sorrindo com manha:
- Amigo, ontem estávamos em campanha!
- Agora já conseguimos o seu voto!
- Aqui também funciona o negócio!


Wagner de Almeida Posso.


Brasil

Mãe gentil
Ou madrasta vil?
Verde, amarelo,
Branco e azul anil?
O que fizeste
Com teu filho varonil?

Um povo heróico
Com brado melancólico?
Penhor de desigualdade
Tornaste pública a calamidade?


Em teu seio, há liberdade
Ou mero vislumbre da verdade?
Desafia nosso peito
A própria morte?
Deixando-nos opróbrios
Da melhor sorte?


Sua Amazônia
Vai virar Nordeste?
Desmatas tanto
Que seu verde virará Agreste?
A imagem do rio Tietê
No centro resplandece?


Suas obras são belas,
Fortes, impávidas e colossais?
Mas ainda permites
O contrabando de teus animais?


Ó, Terra adorada,
Pátria Amada,
Continuas eternamente prostrada?
Deixando seus políticos
Em berços esplendidos?
E seu povo comendo
Toda a sorte de excremento?


Continuas iluminada
Ao sol do novo mundo?
Fingindo levar
Educação ao submundo?


Os seus bosques
Têm mais vida?
Ainda tens
Parlamentares parasitas?


Pregas ainda paz no futuro
E glória no passado?
Se em teus seios,
O crime é continuado?


Continues assim,
Ó pátria amada,
E de desamores
Serás relegada.


E verás que teus filhos
Fugirão a luta,
Dessa luta de subsistência
Profana e injusta,
Pois temem
E não adoram a própria morte,
Apanhando dia a dia
Com clava forte.


Acorda terra tupiniquim e adorada,
Ou deixarás de ser pátria amada.


Wagner de Almeida Posso



Paciência



No banco de um parque qualquer,


Sentados, um homem e uma mulher.


A mulher aponta e assunta:


- Aquele é meu filho caçula!


O homem prontamente responde:


- A minha é aquela menina que brinca de esconde-esconde!


O homem olha para as horas,


Chama sua filha para ir embora,


A menina pede mais cinco minutos para brincar,


E o pai, ternamente volta a sentar.


A menina continua a correr e a brincar,


E novamente cinco minutos vieram a passar,


O homem olha para as horas,


Chama sua filha de novo para ir embora,


A menina pede novos cinco minutos para brincar,


E o pai, sorridente volta outra vez a sentar.


- O senhor é um pai paciente, diz a mulher,


- E esse dom não é para um qualquer!


O homem com semblante triste responde:


- O irmão mais velho dela morreu mês passado,


- Foi atropelado por um carro descontrolado!


- Eu nunca passei muito tempo com meu filho,


- Agora daria qualquer coisa por seu carinho,


- Adoraria mais cinco minutos com meu menino,


- Mas o destino o levou de meu convívio.


- Eu prometi comigo mesmo não mais errar,


- Eu que tenho mais cinco minutos para vê-la brincar!


Nem tudo que é importante, é prioritário,


Nem tudo que é necessário, é indispensável,


Eu parei aqui cinco minutos para postar,


Esses simples versos para vos alertar,


Dê mais cinco minutos a quem você amar,


E será mais feliz, pode provar.


Wagner de Almeida Posso.


LIÇÃO DE VIDA
CERTO DIA EU CAMINHAVA, PELAS RUAS DA CIDADE
TAVA PRO LÁ A PASSÊI, MODE VÊ AS NOVIDADE
QUANDO EU ENTREI NA RUA, JÁ FUI VENO MUIÉ NUA
COM AS PEITANÇAS DE FORA, E EU OIANO AQUELA GENTE
VÍ QUE TUDO É DEFERENTE, DA TERRA QUEA GENTE MORA.
AÍ EU VI QUANDO UM HOME, NUM CARRÃO INVERNIZADO
PAROU NUM BAR DA ESQUINA, FICOU NUM BANCO SENTADO
EU OIANO O JEITO DELE, PUDE OBSERVAR QUI U POBRE
TAVA MÊI PREOCUPADO.
AÍ EU PEDI LICENÇA, COM TODA MINHA FRANQUEZA
DEI BOM DIA PRO DOUTOR, ME SENTEI NA MERMA MESA.
E ELE NEM ME OIAVA, NUM SORRIA, NUM FALAVA
TRISTE FEITO MARIPÔSA, EU SOU MÊI CONVERSADOR,
PRIGINTEI PRÁ O DOUTOR: - TÁ SENTINO ARGUMA COISA?
ÊLE ME OIÔ E DISSE: - NUM ADIANTA EU DIZER,
SE EU FALÁ O QUI SINTO, VOCÊ NUM VAI ARESORVER!
EU DISSE DIGA DOUTOR, DESABAFE PRU FAVOR
JOGUE ESSA TRISEZA FORA, FAÇA ESSA AGONIA AMENA
SE A COISA FOR PEQUENA, A GENTE ARESORVE AGORA.
ÊLE RESPONDEU: - CABÔCO!
EU TÔ MERMO APERREADO, MORRO AQUI NESSA CIDADE
MAS VIVO DESEMPREGADO, TENHO DOIS FÍO ESTUDANO,
UM QUE JÁ TÁ SE FORMANO, I DESPEZA PRÁ TODO LADO
MINHA MUIÉ É DOUTORA, E EU SÓ VIVO LASCADO.
ELE AINDA DISSE ASSIM: - TÁ VENO AQUELE CARRÃO?
JÁ FAZ TRÊS MESES QUI EU, TÔ DEVENO A PRESTAÇÃO
CADA DIA DESAPRUMA, TUDO QUI A GENTE ARRUMA
SÓ DÁ MERMO PRÁ COMER, COM ISSO EU VIVO DOENTE
INTÉ A CASA DA GENTE, JÁ TÔ QUERENO VENDER.
TEM CONTA NA PADARIA, TEM MERCADO PRÁ PAGAR,
A CONTA DA ENERGIA, A CONTA DA TELEMAR,
PRÁ VÊ SE TIRA A MANDINGA, MANDEI REZAR UMA MISSA,
O PADRE MANDOU COBRAR.
AÍ EU DISSE: - DOTOR, QUER A MINHA OPINIÃO?
ENTREGUE O CARRO DE VORTA, VENDA A CASA PRÁ UM BARÃO,
PAGUE TODAS SUAS CONTAS I VAMO MAIS EU PRO SERTÃO!
LÁ EU TENHO UMA TERRINHA, DÁ PRÁ NÓS DOIS TRABAIÁ
TEM A CASA DO VAQUEIRO, EU DÔ PRO SENHOR MORÁ
VAMOS CRIAR VACA, TOURO, VENDA ESSE ANELÃO DE OURO
COMPRE LOGO UMA INCHADA, VAMOS PEGAR NO BATENTE
JURO QUI DAQUI PRÁ FRENTE, NUM VAI MAIS LHE FARTÁ NADA.
AO INVÉS DESSA AGONIA, DO POVO DA CAPITÁR,
VAMOS VIVER NO SOSSEGO, QUE TEM NA ZONA RURÁR,
A CIDADE É PRÁ QUEM PODE, VAMOS CRIAR CABRA, BODE,
PLANTAR BATATA, FEIJÃO, LÁ VOCÊ NUM SUJA O NOME
E TUDO QUE A GENTE COME, A GENTE TIRA DO CHÃO.
LÁ PRÁ TUDO TEM UM JEITO, BASTA VOCÊ TER CORAGEM
SECA NUM TEM QUE O PREFEITO, FEZ PRÁ NÓS UMA BARRAGE!
NÓS PRANTA INTÉ NO VERÃO, MILHO, ALFACE, PIMENTÃO,
TUDO TEM PRÁ SE COMER, E O QUE SOBRAR DA ROÇA
NÓS BOTA NUMA CARROÇA, E VEM PRÁ CIDADE VENDER.
AQUI SE VOCÊ É RICO, SÓ VIVE PREOCUPADO
COM MEDO DOS ASSALTANTES, DE UM FILHO SER SEQUESTRADO
TUDO QUE ARRUMA ESTRAGA, QUANTO MAIS GANHA MAIS PAGA,
CADA VEZ MAIS CARESTIA, DR. ME FALE A VERDADE
PRÁ QUE MORAR NA CIDADE, E VIVER NESSA AGONIA?
LÁ TEM CÔCO, MANDIOCA, LEITE PARA O REQUEIJÃO,
LÁ NÓIS FAZ BÔLO, CUSCUZ, AQUI VOCÊS COMPRAM PÃO,
PRÁ NÓIS FAZER A COMIDA, AO INVEZ DE BOTIJÃO,
A GENTE NUM GASTA NADA, NÓS USA LENHA E CARVÃO.
LÁ DETRAIS DA MINHA CASA, TEM UMA HORTA, PATRÃO,
TEM BETERRABA, CENOURA, CEBOLA, QUENTRO, AGRIÃO,
E O CAFÉ QUE A GENTE TOMA, E PIZADO NO PILÃO.
LÁ VOCÊ TEM TUDO ISSO, SEM HAVER DIFICULDADE
E AQUI TEM TANTO DOUTOR, MAS PRÁ FALAR A VERDADE
É OS MATUTO DA ROÇA, QUE ALIMENTA A CIDADE.
LÁ NA ROÇA A GENTE VEVE, SEM PREOCUPAR COM NADA
TEM DEBUIA DE FEIJÃO, AS NOITES DA FARINHADA,
NAS NOITES DE SÃO JOÃO, NÓS TEM CANGICA, QUENTÃO
FORRÓ AO VIVO, FOGUEIRA, TEM O MEU BURRIM DE CARGA
E UM CAVALO MANGA LARGA, MODE NOS ANDAR PRÁ FEIRA.
LÁ NUM TEM S. P. C., SUJANDO O NOME DA GENTE
CARTÃO DE CRÉDITO SEM CRÉDITO, NEM COBRADOR NO BATENTE
O TRABAIADÔ RURÁ, NUM LÊ REVISTA, JORNÁ
NUM TEM NOTIÇA DE GUERRA, NUM DEVE NADA A NINGUEM
TUDO QE A GENTE TEM, A GENTE TIRA DA TERA.
EU NUM VÔ CRIAR MEU FÍO, ALIMENTANO ESPERANÇA
AS VEZES BUTANO A MÃO, ONDE O BRAÇO NUM ARCANÇA
A MINHA FIA MENINA, É COMO AS FLOR DE BONINA
OU UNS CASÁR DE ANDURINHA, QUE DESCE DE MANHANZINHA,
PRÁ BEBER NA FONTE FRIA.

A MINHA MUIÉ DR.! NUM TEM RIQUEZA,
FIA DE AGRICULTOR, TOMEM NUM TEM METIDEZA,
CASEI COM ELA INDA VIRGE, CARREGANO A MERMA ORIGE
DAS FRÔ DE MARACUJÁ, OU CUMA A FRUTA SAGRADA
QUE NUNCA LEVOU BICADA, DOS BICOS DO SABIÁ.
O POVO AQUI DA CIDADE, SÓ VIVE DE ILUSÃO
QUER ACOMPANHAR A MODA, QUE VÊ NA TREVELISÃO,
TROCA CHEQUE PREDATADO, FAZ RÔLO, COMPRA FIADO,
ENROLA OS OUTROS TAMBEM, FAZ TUDO SEM CONCIÊNÇA
PRÁ MANTER AS APARENÇA DUMA VIDA QUI NUM TEM.



Wagner de Almeida Posso


Casamento das lendas


Se mito ou lenda
Imaginação ou crença
Não poderei provar
Mas “borá” assim mesmo contar...
Ontem, na lua cheia
Sob o canto da Sereia
Foi uma noite festiva
Com casórios e alegrias.
A natureza endoidou
O Curupira, com a Cuca se casou
Ele em traje a rigor e purpurina
Não achou sapato que lhe servia
Ela em um pretinho básico qualquer
Forçou no batom em sua boca de jacaré
Trouxeram como testemunha de casamento
O Negrinho Pastoreio e a Loira do Banheiro
Ele, com a pele ainda manchada pelo formigueiro
Ela, com algodão no nariz e um surrado vestido vermelho.
E não querendo ficar para trás
Sem sair nas colunas sociais
O Saci-Pererê casou com a Mula Sem Cabeça
Mesmo com presunção de uma gravidez faceira
Este, cachimbo no canto da boca e saltitante de alegria
E ela, de patas escovadas soltando chamas de euforia
Seus padrinhos, a Mãe d’água Yara
Em um lindo vestido da coleção “Fashion Week Impala”
Esbanjava brilhos a encobrir a longa calda
Não destoando do Boto com fino terno “Pierre Cardin”
Com um forte perfume da coleção “Jequiti Jasmim”.
Aproveitando a noite cerimonial
Sob flash, risadas e um glamour infernal
A Sereia esbelta, linda com seu canto sensual
Casou-se com o Barba-Ruiva, na mesma noite colossal
O Lobisomem entrou com o Boitatá enrolado no pescoço
Um cachecol medonho que matou os noivos de desgosto
O Negro D’água e a Pisadeira, juízes de paz do festão
Trocaram farpas e socos com a Bruxa e o Bicho Papão
E o Chupa-cabras, com calma e sem ser afoite
Traçou a Mulher da Meia Noite.



Wagner de Almeida Posso